Falta desconfiômetro

Jornal O Norte
Publicado em 05/10/2009 às 10:29.Atualizado em 15/11/2021 às 07:12.

Waldyr Senna Batista



De tão comum, ultimamente, café da manhã está em vias de ganhar a classificação de pau para toda obra. Presta-se ao lançamento de marcas e produtos comerciais; anúncio de obra pública; divulgação de candidaturas eleitorais; exibição de resultado de balanço de empresas, e muita coisa mais.



Em outros tempos, esse tipo de comunicação se fazia mediante publicação de anúncios ou por contato direto dos interessados em visitas às redações, o que dava muito trabalho. Como cresceu muito o número dos veículos, passou-se a convocar o pessoal supostamente ligado à imprensa para entrevistas coletivas, oportunidade em que todos eram abastecidos com informações.



Para simplificar as coisas e torná-las mais atrativas, as assessorias de imprensa introduziram a prática do café da manhã, em que se serve mesa farta e onde se fala quase nada. Sobre recente encontro da espécie na cidade, falou-se em comparecimento de mais de quarenta convivas, identificados como militantes da imprensa.



Esse número surpreendeu, pois ignorava-se que houvesse tanta gente militando na área.  Mas logo se concluiu que estava próximo da realidade, considerando-se que só de cronistas sociais havia uns dezoito ou vinte, além dos pretensos autores de colunas, supostos repórteres, blogueiros e que tais e, naturalmente, alguns jornalistas.



As assessorias de comunicação de empresas, órgãos públicos e de políticos em busca de voto têm em suas agendas o nome desse pessoal, com telefone e email, identificados os que costumam atender aos convites para conversar amenidades e, eventualmente, sobre produtos  ou fatos que motivaram a reunião. Se dez por cento dos presentes derem registro em suas colunas, será grande coisa, comprovando a eficiência das assessorias. E se, além disso, os veículos que representam faturar alguma coisa, melhor ainda.



Porém, a vulgarização do expediente ardiloso tende a eliminar seus efeitos práticos, tal como sucedeu com as entrevistas coletivas. Elas começaram ouvindo presidentes da República e ministros, e, quando menos se esperava, até vereador estava sendo entrevistado.



Não que vereador não seja importante. Mas a própria imprensa é que deve estabelecer critérios de seleção, não se deixando envolver pelos que lançam mão da divulgação de forma imprópria. Neste caso, o primeiro item a ser considerado resume-se naquela pergunta: a quem interessa, ao entrevistado ou ao público?



Estando chegando ao nível de ouvir candidato a candidato a deputado, teme-se pelo pior. É que os integrantes desse pelotão contam-se às centenas. Grande parte na condição de balão-de-ensaio. Não têm o que dizer.



Não é o caso, por exemplo, do deputado Ciro Gomes, que se candidata a presidente da República pela terceira vez, e tem gabarito para tanto, apesar de  abusar no uso de palavrões.  E do senador Hélio Costa, que também está imune a restrições, ele que tem sido presença constante em Montes Claros, se não para inaugurar obras do Ministério das Comunicações, que dirige, ao menos para divulgar sua candidatura a governador.



Enfim, a turma da imprensa, que não precisa de conselhos, certamente já atentou para o sinal amarelo nessa questão de café da manhã. Se alguns dos que lançam mão desse expediente não têm por hábito usar o desconfiômetro, dando-se mais importância do que têm, cabe aos jornais e emissoras se precaver, sob o risco de se apequenar.

Compartilhar
Logotipo O NorteLogotipo O Norte
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por