*Eduardo Costa
Existem algumas notícias muito importantes para as quais não damos a devida importância. Um bom exemplo é o resultado de pesquisa com 2.002 pessoas maiores de 16 anos de idade em 140 cidades brasileiras, incluindo grandes centros, a periferia e o interior. Numa escala de 0 a 10 a checagem sobre educação financeira ficou com a média 6 e apenas 3% dos entrevistados atingiram pontuação maior que 8. Se a população não tem a informação esperada sobre a economia, mais assustador é que o grupo de 16 anos apresentou queda em relação à nota do ano passado, de 5,9 para 5,5. E mais: também o índice dos brasileiros que têm entre 18 e 24 anos caiu em comparação com 2013. Por que os números incomodam? É muito triste que nossos jovens não tenham preocupação com a economia, pois, em consequência não terão o compromisso suficiente para defender a estabilidade e enfrentar o dragão da inflação que infernizou a vida dos brasileiros nas últimas décadas do século passado.
Quem viveu com a inflação a 80, 90% por mês, quem viu aquelas máquinas de remarcar funcionando o dia inteiro dentro dos supermercados, quem conheceu o investimento bancário que tinha o nome de “over night” – exatamente porque protegia o dinheiro dos mais abastados durante a noite – sofre ao saber que a nova geração não tem ideia da importância de se viver em ambiente de tranquilidade econômica. O indicador de educação financeira é composto por três índices referentes a finanças pessoais e familiares dos brasileiros: o conhecimento, a atitude e o comportamento.
A maior nota é para o comportamento (50%) que avalia o entendimento de conceitos financeiros. O economista Carlos Eduardo Costa tem uma definição para essa tristeza: “É lamentável que os jovens de hoje não tenham consciência da importância de planejar porque as gerações anteriores não tinham espaço para tal; o mais importante era sobreviver”.
Outra questão levantada pelo economista é a inserção dos jovens no mercado de consumo. Pela pouca maturidade, eles são mais sensíveis aos apelos pueris, como usar roupas da marca X, calçar tênis da marca Y e comprar smartphones da marca Z, como forma de afirmação. As transformações nas famílias brasileiras guardam uma relação com o resultado da pesquisa. Antes, elas tinham um caráter autoritário, onde todas as decisões eram centralizadas no pai ou na mãe.
O que se percebe atualmente é que os ares democráticos chegaram também nos núcleos familiares e muitos estão se perdendo nesta transição. O educador Içami Tiba diz que esta geração de pais é aquela que está deixando de ter medo de seus pais para passar a ter medo dos seus filhos. Ou, se antes, aos domingos, quando a mãe fazia o frango todos, os filhos já sabiam que a coxa era do pai, hoje não costuma sobrar nem uma asa para o velho.
