*Cláudia Gabriel
Que a gente tem mania de adiar a vida – isso é fato. Começar a ginástica? No verão! E a tão prometida dieta? Na segunda-feira desta semana ou das próximas, dependendo da disposição. Empurramos o que é meio chato e o que é bom também. Saudade daquele amigo especial? Vamos marcar uma saída. Pra quando? Resposta: “eu te ligo”. E a ligação pode demorar dias ou meses. Fazer uma bela viagem, sozinho ou em boa companhia, também pode esperar o momento ideal que parece nunca chegar. Essas atitudes – ou a falta delas – soam tão inofensivas porque afinal não estamos incomodando ninguém. Mas esse adiamento constante já é tratado como mais uma doença social, pelo que li na revista Vida Simples: procrastinação do prazer. E a reportagem fala que, nos Estados Unidos, existe até um movimento com o sugestivo nome “Prazer já”.
A gente sonha, faz planos e sente até o gostinho da realização, mas não aperta a tecla START. Os livros e a filosofia budista nos lembram, a cada momento, que a vida é aqui e agora. Mas ah... Será que dá pra esperar só mais um pouquinho até eu me sentir pronta pra entrar em cena? Quem diz que nunca foi atacado por essa preguiça de agir mente. Ela vem quando surge uma oportunidade nova de trabalho e a gente sabota. Ou quando aparece a possibilidade de um novo amor e a gente descarta pra não correr riscos com o desconhecido. E vamos seguindo, levando a rotina no mais ou menos.
Assim como uma entrevistada contou à Vida Simples, há algum tempo, procuro praticar o que considero um paliativo. Faço listas do que quero e devo fazer. Desde ir ao supermercado comprar biscoitos calóricos até marcar um café com alguém ou atravessar a cidade pra tomar um chocolate quente num lugar que descobri por acaso. Vou escrevendo esses itens, secretamente, logo que tenho as ideias, e acabo perdendo algumas das anotações, diluídas em agendas e bloquinhos de jornalista. De vez em quando, passo tudo a limpo, eliminando o que já consegui cumprir. E dá um alívio danado rabiscar o que já saltou do papel para a vida.
Não é à toa que saíram inventando as listas do que se deve fazer antes de morrer – filmes, livros, lugares, desejos. Longas listas de 100, 1000 vontades que não podemos deixar pra trás. Assim teremos aquela ilusão de que a nossa passagem por aqui valeu a pena. Não para o mundo, mas para a nossa alma. E o que cabe em cada uma dessas filas de projetos ou de fantasias varia muito de pessoa pra pessoa. Alguns, mais aventureiros, querem voar de asa-delta ou partir para um safári ou comprar um bilhete só de ida ou andar numa Ferrari reluzente. Outros se contentariam em publicar um livro, tocar um instrumento com maestria, dançar balé para uma plateia encantada e ainda encontrar uma fórmula mágica para a felicidade antes que seja tarde demais.
Lista do possível e do impossível. Lista pra ser posta em prática no que tem de real ou no que se consegue persistir pra fazer dar certo. Ainda que não seja exatamente como foi imaginado. O importante é que esse caminho, pra se conquistar uma vontade, também seja bem saboreado. Viver de olho no futuro, sem gostar do presente, é passar o tempo meio dormindo, pensando que amanhã o milagre acontece. É como se estivéssemos hibernando até que chegue a hora tão esperada em que tudo vai ser perfeito. O problema é perder o agora, é não enxergar a família, os amores, os amigos, o lazer fácil, de se ir ao cinema ou ao teatro, as coisas simples que também dão alegria - desde que a cabeça não esteja longe demais.
Deixe o quando e o se de lado, faça a sua lista de desejos e saia por aí – tomar um sorvete com um sabor incrível, comprar um vestido exótico, andar na chuva, abrir uma garrafa de champagne sem motivo especial, abrir um sorrisão pra alguém que você vê pela primeira vez, encher a casa de flores frescas e, no fim do dia, rir muito até se cansar. Vale tudo desde que a meta seja cumprir o que se promete no menor espaço de tempo possível. Não amanhã ou depois. Ainda hoje!
