Estamos sós

Laura Conrado

Jornal O Norte
Publicado em 30/01/2014 às 01:58.Atualizado em 15/11/2021 às 16:44.

*Laura Conrado

Tom Jobim dizia que “é impossível ser feliz sozinho”. Remendo com a certeza de que é muito possível ser infeliz acompanhado. Isso porque, na minha simples opinião, felicidade é uma luta íntima. Ser feliz depende muito mais de estar harmonizado com minha história e da qualidade as escolhas que faço. Posso estar feliz indo ao cinema sozinha no dia dos namorados ou estar triste acompanhada de marido, amigos e filhos.

Vejo o tamanho do nosso medo de estar só ao reparar o esforço que fazemos para manter relações “mais ou menos”. Ou a ânsia em que pegamos o celular quando nossa companhia se levanta e nos deixa sozinhos na mesa, como se ficar três minutos sozinhos em público fosse trágico. E nos e-mails que recebo de leitoras, nos papos com amigos e nas duras sessões de terapia que fiz por anos.

Dados de 2012 afirmam que a expectativa de vida do brasileiro é de 74 anos; ganhamos anos de convivência conosco – que poderão ser insuportáveis se não conseguirmos lidar com nossas pirações, medos e desejos. Nascemos e morremos sozinhos. Mesmo quando namoramos, estamos sós. Ninguém vai amadurecer no nosso lugar, ninguém vai fazer nosso trabalho, ninguém pode ficar saudável pela gente tampouco rir ou chorar por nós mesmos.

As pessoas se unem em igrejas, em ideologias políticas e em torno de times de futebol. Fazem amigos, montam equipes de trabalho, namoram, casam. Até os solteiros convictos querem passar a noite com alguém. Seres que nascem e morrem sozinhos não querem estar sozinhos. Ao longo da vida, amamos e somos amados, mas nossa trajetória é única e intransferível. Melhor tratarmos de sermos boas companhias para nós mesmos.

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