Erramos

Jornal O Norte
Publicado em 04/05/2011 às 09:19.Atualizado em 15/11/2021 às 17:26.

Anelito de Oliveira (*)



No início de 2008, quando quase ninguém acreditava sequer na possibilidade de Tadeu Leite voltar à prefeitura de Montes Claros depois de doze anos afastado, aceitei o convite para participar de um grupo que teria como função conceber um plano de governo para a cidade, que serviria de fundamento para a campanha eleitoral e seria colocado em prática num eventual governo.



Recebi o convite com certa indiferença, e só o aceitei realmente por três motivos: pelo compromisso que tenho com Montes Claros - de onde sou, inclusive, Cidadão Honorário -, por respeito a Ildeu Braúna, atual secretário de cultura, através de quem o convite me chegou, e por estar incompatibilizado naquele momento com a situação, o Governo Athos Avelino, sem alternativa senão buscar outros diálogos.



Filiado ao PSB (Partido Socialista Brasileiro) desde 2006, tentei, inutilmente, convencer os membros do Partido em Montes Claros que deveríamos discutir a possibilidade, pelo menos, de uma aproximação com o PMDB, partido de Tadeu Leite, naquele momento, a fim de que a minha participação naquela equipe de plano de governo -  na qual havia outro membro do PSB, o professor Antônio Maciel - não fosse um ato isolado.



O argumento que então apresentei aos membros do PSB - e aqui relembro - foi que não poderíamos trabalhar, naquele momento, com uma visão preconceituosa, evitando até dialogar com Tadeu Leite só porque pesavam - e ainda pesam - contra ele acusações de autoritarismo, corrupção e populismo, entre outras. Eu dizia e repito: em política não cabe preconceito de qualquer natureza.



Acreditando nas “juras” de Tadeu Leite (para mim, obviamente desnecessárias) de que havia mudado da “água” para o “vinho” desde sua última administração, que o tempo - como é natural - o tinha transformado em outro tipo de político, trabalhei seriamente na equipe do plano de governo, sempre defendendo que uma eventual administração deveria ser marcada pela preocupação com o desenvolvimento humano na cidade.



Desde o início, fiz questão de deixar claro, tanto para Tadeu Leite quanto para os seus velhos amigos ali presentes, que a minha participação naquele processo era desinteressada, que não estava atrás de cargo, mas apenas agindo de acordo com uma consciência cidadã, ou seja, assumindo as questões da cidade - seus problemas, especialmente - como “minhas questões” também, e dando minha contribuição para o encontro de soluções.



Vencidas as eleições, depois de uma caminhada difícil, na qual - como lamentavelmente acontece - a prática se revelou bastante incoerente com a teoria (aquela praticada na equipe do plano de governo), Tadeu Leite esqueceu suas “juras” de ter se transformado em outro tipo de político, e voltou a ser o mesmo de sempre, um político antigo, concentrador de poder, diluidor de oposições, enganador de pobres e protetor de ricos, incapaz de respeitar as diferenças e de administrar para todos, “com a força de todos” - slogan, aliás, da campanha.



Apesar da decepção que tive já no momento inicial, quando o então novo prefeito apresentou sua equipe de amadores para ocupar as secretarias da prefeitura, figuras do passado selecionadas segundo critério de cozinha, mantive até este mês de abril a esperança de que o governo encontraria algum caminho mais produtivo.



Constato, em face dos últimos acontecimentos - intimidação do movimento democrático fora Tadeu, investimento excessivo em propaganda, recrudescimento da criminalidade à luz do dia, aumento de impostos! - que tudo está mesmo perdido.



Erramos, todos nós que apoiamos, votamos e defendemos de boa fé o retorno de Tadeu Leite à prefeitura. Isso é o mínimo que podemos fazer em nome, antes de mais nada, da nossa consciência.



Devo atribuir esse erro, da minha parte, à confiança que sempre depositei em Ildeu Braúna, que não tinha de Tadeu Leite nenhuma garantia de compromisso, inclusive, com a cultura, mas nos fazia entender que sim, que Tadeu Leite seria o prefeito da cultura. Realmente: de uma cultura política do atraso, que Montes Claros precisa enterrar.



(*) Doutor pela USP, professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da Unimontes. E-mail: anelitodeoliveira@gmail.com 


 

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