Por Laura Conrado
Cheguei ontem da Bienal do Livro do Rio de Janeiro, importante evento para profissionais do livro e leitores. Dezenas de editoras, centenas de autores e milhares de títulos disponíveis ao mar de gente que atravessou os pavilhões. A maratona de doze dias, com a média de 12 horas diárias, é exaustiva para qualquer um. Mas ainda dá tempo da galera reparar na pilha de livros alheia. Quem vendeu, quem está bem em tal editora, quem é aposta e “o-que-fulano-fez-para-conseguir-isso” sempre são pautas de conversinhas – às vezes regadas à dor de cotovelo.
Quando era adolescente, ouvi que o sucesso é feito à noite, enquanto os outros dormem. Isso mudou muito a minha vida. Sempre que via alguém num carrão, morando bem e esbanjando dinheiro, só conseguia pensar no quanto a pessoa deixou de dormir para conseguir tudo aquilo. (Claro, com exceção dos que felizmente nasceram em berço de ouro, dos que enriqueceram de forma ilícita e daquelas que engravidaram da pessoa certa). Quem tem a estabilidade e a remuneração de concursado público federal, certamente, estudou muito para ser aprovado. Um empresário de uma grande rede ou indústria investiu e trabalhou duro quando começou. Quem exibe uma barriga seca se mata na academia e sofre restrições na alimentação. Todos pagaram um preço pelo o que possuem.
Entender isso cedo me fez ficar do lado dos que admiram e correm atrás dos sonhos (ou na frente deles, como minha mãe me ensinou!) ao invés de estar do lado dos que invejam. Desisti de acreditar que a grama do outro é sempre mais verde; cuido do meu arado. É sadio para meu emocional e produtivo para meu trabalho concentrar no que eu vendo, nos meus títulos, nas minhas capas, nas minhas histórias e nos meus erros e acertos do que passar horas na internet ou nos eventos de “mimimi”, dormindo durante o dia. Sou minha única concorrente.
Muitas coisas não saem como eu quero ou do jeito que sonhei. Mas, ainda sim, escolho compor o time dos que têm gratidão ao invés dos chorões que acham que têm direitos. Responsabilizo a mim mesma pelos erros ao invés de culpar os outros por frustrações. Prefiro ficar desperta, trabalhando no meu sonho do que ficar dormindo no ponto, especulando sobre sorte e sobre o que eu poderia ter tido.
