Em busca da compreensão - por Adilson Cardoso

Jornal O Norte
Publicado em 21/11/2007 às 18:27.Atualizado em 15/11/2021 às 08:23.

Adilson Cardoso *



Ajude-me a entender o meu medo de sair de casa à noite e não mais voltar. Quero saber se sou normal ou preciso de avaliação da Psicologia. Estou ficando deprimido e entrando em pânico. Quando leio a página policial do jornal, busco meu nome entre as vítimas de assalto. Outro dia saí tanto de min que fui ao IML reconhecer um corpo achando que eu havia morrido.



A história me fascina e ao mesmo tempo me atormenta: a foto de Dom Pedro II, garoto condecorado, não pode ser aquele velho barbudo, cansado e desiludido que ficou no trono por 49 anos, se eu apenas virei uma página do livro. O noticiário mostrou a chuva destelhando casas e desabrigando pessoas em certa região, enquanto no Norte de Minas a seca mata o gado e expulsa o pequeno produtor.



Fico ainda mais temeroso, pois tenho receio da ventania, com suas pedras de granizo e, ao mesmo tempo, não consigo dormir com o calor infernal.



Queria ser alheio a tudo isto, a todas as situações conflituosas desta existência, mas não sei como fazer, só me sinto forte quando vejo um desenho animado. É assim que a vida deveria ser, nos dar mais chances de colar nossos caquinhos quando nos despencamos de certos penhascos. Todos nós deveríamos ter o privilégio de morar com segurança no oco do pau, assim como o pica-pau, e de saltarmos de alturas imensuráveis e com a imaginação bater asas e planar sobre o mais bonito dos bosques. Mas tenho que voltar à realidade, pois, quando era criança e tinha os poderes de Pirlim-pim-pim, desejei crescer logo, para sair à rua sem pedir a meu pai, ledo engano, pois na rua não existe nada de especial a não ser os Flamboyants que florescem nesta estação.



Queria também ser adulto para me casar e ficar abraçadinho com a mulher quando eu tivesse medo do escuro. Outro engano letal: quem é grande perde o direito de ter medo e, no escuro, precisa se fazer de corajoso. É a máxima machista a que os adultos se submetem e as crianças, enganadas, desejam crescer logo.



Sou um ser em busca da compreensão, não sei para onde vou quando morrer. Tenho pesadelos quando lembro que a única verdade é a morte, mas não quero me preparar para sua chegada, mesmo porque não tenho os tesouros dos faraós para barganhar no além. Refletindo sobre as correntes que induzem à salvação, percebi que sou contrário a quase todas, pois a ganância ainda é bastante imperativa, a busca do lucro continua saqueando os fiéis.



De que adiantou a luta pela reforma para acabar com a usura se, hoje, templos milionários se instalam em países paupérrimos, com o discurso de salvar almas, mas o que fazem na verdade é usurpar dos miseráveis de cabeças lavadas...



Os filhos de Alá vão continuar perseguindo a besta americana, esta por sua vez continuará matando os inocentes do Oriente, com o discurso de caçadores de terroristas. Crianças sendo preparadas para explodir, outros se explodindo para encontrar as virgens no céu. Enfim, acho que vou mesmo é para o inferno, tranqüilo, pois sei que Raul Seixas anda fazendo suas cantorias por lá.



Também não acredito que lá tenha caldeirão e aquela queimação de que a bíblia fala, pois o excelentíssimo senhor Belzebu morava no paraíso e alguma coisa boa deve ter trazido de lá.



Bem, assim vou conduzindo meus dias, lembrando ainda que sou cruzeirense, o que ultimamente tornou-se um fator de risco para quem não se encontra em perfeita saúde emocional. Também acredito no Brasil, no governo que aí está e no amor que rege a vida. Sou normal?



* Aprendiz de escritor


adilson.airon@gmail.com

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