Márcio Adriano Moraes
Escritor e professor de Literatura e Língua Portuguesa
Foi-se o primeiro turno, mas a tensão continuará ainda por algum tempo. As propagandas diminuirão é verdade. Agora só restam dois candidatos. No primeiro momento, além dos “pré-feitos” (ou seriam “pré-acabados”), as centenas de “ver-e-a-dores” povoavam ruas, praças, bares, escolas e, principalmente, caixinhas de correio. Feliz foi aquele que proibiu as estampas de santinhos e demoninhos em postes, muros, bancos e telefones públicos. Era apelação demais. Mas quero falar mesmo é de dois pontos interessantes pertinentes às eleições: humilhação e decepção.
É incrível como, no período eleitoral, o ser humano se rebaixa, rasteja, se humilha por um voto. Os candidatos mostram o seu lado mais miserável, frágil, dependente do outro. Nesse tempo, a população pode aproveitar ao máximo, conseguir emprego, cestas básicas, asfaltos e outros agrados. Os que almejam a uma vaga na administração pública fazem de tudo para ter o seu número digitado na urna. Aqui na minha cidade, vi um médico renomado parado no sinal com seu uniforme branco distribuindo papeizinhos e implorando por um voto. Um homem formado, bem remunerado competindo com os flanelinhas que também pediam. Cada qual com os seus interesses, cada um no seu quadrado. Depois das urnas, todos sabem o que acontece. Depois do trocado ao flanelinha, todos sabem também.
Seria realmente uma democracia fazer um cidadão ajoelhar aos pés do outro para que este outro o coloque no poder? Bom, não acho que seja democracia, pode ser, sim, do “demo”, mas sem “cracia”. Os homens de boas intenções (e os de más também) dependem totalmente dos eleitores que, muitas vezes, não possuem ciência política. Na prática, a grande maioria vota em um candidato por afinidade e não pelas propostas dele. Como eu disse certa vez, todas as propostas de todos os candidatos são boas.
Após se humilhar, vem a decepção. O candidato sério, merecedor de uma cadeira legislativa ou executiva, aquele que possui, sim, ciência política e tutano para administrar e desenvolver a cidade cai nas promessas de votações enganosas. Quem disse que só os candidatos fazem promessas e não cumprem. Os eleitores são tão cobras quanto alguns candidatos, ou até cobras mais vorazes que aqueles que desejam governar. Prometem o voto, apóiam, exploram... e o pobre candidato já conta os números de sua votação. Na hora “V”, o pensamento vai longe... e o resultado: punhais nas costas.
Mas, cá entre nós, como esta forma de eleger vereadores por partido político é injusta e fere o desejo da população. O eleitor vota é na pessoa e não no partido, essa que é a verdade. E não se diga o contrário, ideologia partidária. Isso não existe! Se um candidato teve milhares de votos é porque a sociedade quer este cidadão lá dentro da câmara. Mas não, um carrancudo que teve centenas de votos é eleito por causa do partido. Brincadeira... Depois, chegam uns engravatados e dizem que isso é democracia. São nessas horas que sobe a cabeça o desejo de ver os herdeiros de Dom Pedro no trono.
Período deprimente este das eleições. Neste tempo, ricos e pobres rastejam aos pés dos eleitores como pedintes estigmatizados. E depois das eleições, o resultado insatisfatório, o conhecimento das víboras que circundam o ser humano. Mas a vida é assim, alguns ajudam com interesse, outros só querem ser ajudados. E sempre será assim. É difícil ensinar moral para alguém, e duvido que isso seja ensinado.
Não haveria uma melhor forma de se colocar alguém no poder? O que garante a capacitação dos candidatos? Essa idéia de que todos podem se candidatar é, no mínimo, esdrúxula. Novas propostas até que existem, mas não citarei aqui, pois posso ferir a imagem daqueles que se orgulham de chegar ao poder sem serem “educados”, não é mesmo companheiro! Aquele que possui mérito e competência pelo seu trabalho, não precisa implorar votos. O povo é que implorará por ele.