Everaldo Ramos
Professor de História e Geopolítica e acadêmico de Direito da Funorte.
Passada a euforia dos embates, debates, bandeiraços e comemorações, resta-nos desvestir dos trajes e cores partidários para uma análise profunda e racional sobre a pergunta que não quer calar em Montes Claros: Quem realmente ganhou e quem perdeu as eleições findadas no último domingo?
Sem sombra de dúvidas, numa primeira análise, seria impossível não reconhecer que o grande derrotado foi o prefeito Athos Avelino. Ao ter montado um secretariado extremamente técnico, pecou e muito ao não se lembrar que, em política, a técnica deve estar associada ao bom trato político e que às vezes até um não, quando bem dito, serve de contentamento para um eleitor, quando este recorre ao poder público. Além do mais, ao agir com demasiada cautela na tomada de decisões, o prefeito acabou se deixando comparar com aqueles políticos que só fazem obras de última hora, em períodos eleitorais.
De honestidade inquestionável e de uma seriedade no trato da coisa publica como nunca fora visto antes em nossa cidade, talvez tenha imaginado que isso bastasse para uma reeleição, onde todos sabiam que seria por demais concorrida. Resta agora ao prefeito alçar vôo em direção a uma tribuna, quer seja estadual ou federal, já que precisará e muito de uma trincheira para se defender das perseguições políticas materializadas em processos e mais processos, como já vem sendo anunciado, pelos quatros cantos da cidade, pelo prefeito eleito.
Juntamente com o prefeito, impossível não mensurar a fragorosa derrota do deputado Arlen Santiago. Adesista que sempre fora, ele chegou na campanha de 2004 no segundo turno, mesmo assim timidamente. Foi beneficiado com espaço considerável para seu partido, maior do que o merecido, e com apoio inconteste do prefeito a sua reeleição para deputado estadual em 2006. Tudo isso em troca do apoio incondicional dos vereadores do PTB ligados ao deputado à administração do prefeito Athos.
Quanto ao PT, a que parte da mídia atribuiu a responsabilidade pela derrota do prefeito, o que não concordamos, encontra-se numa situação por demais ambígua. Perdeu espaço significativo na administração municipal, onde desempenhou importante papel na viabilização e execução das políticas públicas do governo federal, como o biodisel, restaurante popular, farmácia popular e Samu, todas elas articuladas pelo gabinete do vice-prefeito Sued, tido por alguns como um vice submisso e dócil, mas muito bem articulado e fiel, o que nunca foi costumeiro na história dos vices daqui. Concordamos que faltou ao vice Sued mais ousadia nos enfrentamentos travados no interior do governo, mas sai do processo preservado, por ser uma das poucas reservas morais na política da nossa cidade.
A força petista hoje se projeta na figura do advogado e agora vereador eleito Alfredo Ramos, que soube como poucos transitar e muito bem dentro da estrutura da máquina administrativa, e se aproveitar direta e indiretamente da mesma para se beneficiar, inclusive o fato de ter apoiado o candidato do prefeito a deputado federal na ultima eleição, o então candidato Humberto Souto. É, sem sombra de dúvidas, a estrela de maior brilho, hoje, dentro do PT, pois tem mandato, tribuna e votos. E em política isso é o que conta.Tomara que o companheiro Alfredo se mantenha firme na defesa dos princípios petistas e não se deixe encantar e se levar pelo canto da sereia, deixando de lado o cafezinho petista e passando a beber só leite.
Outros perdedores, que talvez merecessem nem ser lembrados foram os candidatos a vereador que um dia por lá estiveram e pouco fizeram, e ainda sonharam em voltar. Receberam um sonoro não ecoado das urnas, agora digitais. Mas, como a lógica da política montes-clarense é disputar sempre, perder jamais, ainda no segundo turno muitos desses senhores e senhoras migraram como num passe de mágica para a candidatura melhor posicionada na pesquisa, a fim de garantir uma boquinha na próxima administração.
Pra lá foram Ademar Bicalho, Maria Helena Lopes, Guila Ramos e alguns que nunca foram vereadores, mas foram muito bem votados, como: Marley, Dr. Marlon, Jaime Tolentino e outros tantos que agora nos falha a memória. Esses últimos literalmente cuspiram no prato que comeram durante muito tempo, ao abandonarem Ruy quando este mais precisava.
É incrível como em Montes Claros a profética fala de Magalhães Pinto, que dizia política é como uma nuvem... é tão vivenciada por aqueles que orbitam em torno do poder. Ainda não podemos esquecer da derrota vergonhosa daqueles que foram presos pela polícia federal envolvidos no maior escândalo de corrupção no nosso legislativo, o caso pombo correio. Lipa Xavier, Fátima Pereira, Ademar Bicalho e Rosemberg receberam do povo um alto e sonoro não.
Certamente o leitor está indagando sobre o só agora deputado de fato Jairo Ataíde. Ora, até aqueles que pouco ou nada sabem de política conseguem reconhecer na figura desse senhor o individualismo costumeiro, peculiar aos chefes políticos da República Velha. Ele e sua esposa, a também deputada Ana Maria, saíram vitoriosos sim, é verdade, pois desde o primeiro turno, por mais que oficialmente estivessem apoiando o então candidato Ruy Muniz, na verdade estavam mesmo, nos bastidores, apoiando e torcendo e muito pela vitória do senhor Luiz Tadeu Leite. Em política, senhor deputado, a omissão é julgada como opção e a sua ausência da campanha do candidato Ruy Muniz assim foi interpretada. A cidade entendeu a sua mensagem, o senhor só participa ativamente da política de Montes Claros quando na condição de protagonista e disso todos já sabiam, só Ruy parecia não saber. Resta-lhe agora recompor seu grupo, já seduzido por Tadeu e cooptado desde o início da campanha eleitoral. Seu maior desafio agora será impedir que o
feitiço possa não virar contra o feiticeiro... Tomara que consiga, o que acho pouco provável.
Ainda não podemos esquecer dos Pimenta. Sempre acostumados com a condição de coadjuvantes, sonharam com a possibilidade de enfim serem elevados a protagonistas. Receberam da parte do candidato Ruy todo o respeito e valor por eles merecidos. Porém, passado o primeiro turno, não se contiveram diante do canto da sereia e bandearam em direção aos braços do agora prefeito eleito Tadeu Leite, voltando assim à condição que ocupam há anos e anos na política de Montes Claros: meros coadjuvantes. Um terá pela frente o desafio de manter a tribuna que tem; o outro, com certeza, de se alojar na ação social e comandar os seus, que de lá nunca saíram.
Já ao prefeito eleito cabe as honras de uma vitória legalmente inquestionável, e o oportuno aviso: hoje o ministério púbico está mais atuante que há 20/30 anos. A sociedade civil se encontra mais organizada. Hoje existem oitenta e seis mil fiscais de olho na sua administração que se iniciará em primeiro de janeiro. E que tirar prefeito virou moda, quando este não age de maneira proba em relação ao trato com a coisa pública.
Parabéns ao prefeito eleito, e tomara que suas promessas de campanha se tornem realidade, pois nosso povo já sofre muito, vítima das mazelas quase sempre produzidas por aqueles que se revezam no poder!
Quanto ao deputado Ruy Muniz , apesar de não ter sido eleito, com certeza foi projetado na condição de principal voz de oposição ao prefeito eleito, candidato natural a prefeito na próxima eleição e vencedor inconteste no pleito que passou. Graças aos seus 35 mil votos, quase todos eles transferidos ao prefeito, livrando-o de uma derrota ainda mais fragorosa. Ao conceder apoio gratuito ao prefeito, entrando de cabeça na sua campanha, Ruy mostrou a todos que em política ainda e possível superar divergências, construir a unidade em torno de um projeto comum, onde a cidade possa ser colocada acima dos particularismos tão constantes na vida política. Ao se posicionar ao lado do prefeito, Ruy mostrou à cidade que tem grupo político, que não se curva diante da pressão de caciques e que, acima de tudo, ama esta cidade verdadeiramente.
Cabe agora ao deputado Ruy Muniz pavimentar sua reeleição como deputado estadual ou, ainda, sonhar com vôo mais alto em direção à câmara federal. O que é perfeitamente possível, já que tem grupo, preparo, carisma e acima de tudo um conjunto de eleitores fiéis, que o acompanham desde a sua eleição como o vereador mais votado da história de Montes Claros.