Editorial

Onde está a misericórdia?

Jornal O Norte
Publicado em 26/09/2013 às 08:55.Atualizado em 15/11/2021 às 17:11.

A Santa Casa comemora 142 anos de serviços em Montes Claros. Uma marca histórica e que, para que se fizesse melhor conhecida da comunidade montesclarenses deveria ser detalhada sob o prisma da História.

Quem foram os seus fundadores?  Qual era o espírito que os movia?

A resposta para estas duas questões, entre outras, serviriam para iluminar uma discussão que se trava, quase um século e meio depois, no que diz respeito a outros hospitais filantrópicos de Montes Claros, mas em especial à Santa Casa, dita de misericórdia.

Aqueles que fundaram este hospital não poderiam vislumbrar o futuro e imaginar na potência em que se tornaria.

Ultrapassar um milhão de atendimentos/ano; tornar-se referência de alta complexidade para a demanda de 86 municípios, mantendo uma taxa de ocupação sempre superior a 100%, entre outros feitos. Realmente são marcas que impressionam e que se prestam à boa propaganda.

Mas estes feitos foram conseguidos seguindo à risca o trabalho samaritano que os fundadores da Santa Casa de Misericórdia empreendiam, como modestos imitadores de Cristo?

A resposta para isso exige saber o que afinal é misericórdia.

Um sentimento de compaixão despertado pela desgraça ou pela miséria alheia. A expressão misericórdia, de origem latina, é formada pela junção de miserere (ter compaixão), e cordis (coração). Significa ter a capacidade de sentir aquilo que a outra pessoa sente; aproximar seus sentimentos dos sentimentos de alguém, ser solidário com as pessoas, numa forma de compaixão que brota do coração.

Não fica claro onde está a misericórdia quando se assiste a dor e desconforto de doentes e familiares agoniados nas antessalas do pronto socorro ou abandonados em corredores.

Não se percebe também misericórdia quando se vê investimentos em construções portentosas quando se sabe que este hospital é hoje custeado, majoritariamente, por recursos públicos.

Não se consegue nem mesmo vislumbrar qualquer forma de piedade quando há feudos que se fecham em exclusivíssimas vantagens para profissionais que sabidamente já estão muito ricos.

Por uma questão de respeito à história, quase sesquicentenária da Instituição, se faz necessária uma reflexão e efetiva ajuda por parte dos que detêm o seu controle, de forma a corrigir distorções, adotando atitudes capazes de colocar o cidadão comum em primeiro plano, deixando de lado as mobilizações por primazias, cheias de desconhecimento dos bastidores, e controles de vantagens, muitas inconfessáveis.

É preciso que aconteçam mudanças de tal ordem que, se acontecer, por exemplo, da figura mais proeminente do nosso clero adoecer, seja opção dela ser atendida pelo SUS, ingressando pela mesma porta que recebe a população sofrida que ali busca um mínimo de alento para suas dores.

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