* Eduardo Costa
O que mais me impressiona na ação de nossos governantes é a indiferença diante de temas da maior gravidade e urgência. Hoje não repetirei os discursos sobre educação, saúde, segurança pública e tantos outros como mobilidade urbana. Quero falar do aquecimento global, algo que parece tão distante, mas já chegou à nossa cozinha, nosso banheiro e ameaça a nossa vida. Já não se discute mais se teremos ou não aumento da temperatura nos oceanos e perto da superfície da terra, mas, de quanto será. Os cientistas mais respeitados asseguram que, no mínimo, dois graus a mais já estão garantidos até o fim deste século.
Você pode questionar: Eduardo, tanta coisa mais urgente, como a Dilma vai pensar nisso? Ela sabe, até porque foi ministra das Minas e Energia, que o risco de racionamento de energia é cada vez maior para este ano e, seguramente, poderá ser muito pior em 2015. Sabe, igualmente, que as termoelétricas são como um seguro, que a gente só usa quando precisa – quando bate o carro, por exemplo – mas, desde o ano passado, estão ligadas ininterruptamente. Então, além dos R$ 20 bilhões do ano passado, mais R$ 20 bilhões vamos pagar deste ano, através da conta de luz ou do tesouro nacional. Há de se observar que, de repente, quando mais precisarmos, muitas delas poderão não dar conta de funcionar. E aí?
Das dez temperaturas mais altas, medidas em quatro mil estações que estavam monitorando o clima no último dia do ano passado, nove foram registradas no Brasil, incluindo regiões tradicionalmente mais frias, como Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Ou seja, esse calor perto do insuportável, que nos faz discutir a mudança da roupa, com a dispensa do terno em ocasiões solenes, que faz soldados trabalharem de bermuda e sandálias, está oficializado nos termômetros e não nos preocupamos. Já existem cidades, grandes, médias e pequenas, com racionamento de água. A última notícia é definitiva: os produtos da horta estão mais caros por conta do sol quente e da falta de chuvas: do tomate à beterraba, incluindo o quiabo, cujo quilo está beirando nove reais. Quando a gente vê um céu de brigadeiro e ausência de nuvens, sabe que o outono está chegando e o verdadeiro inverno ainda vem, pode imaginar o que vai acontecer com o leite, a carne, a soja, o agronegócio – que tem sido a salvação da lavoura no país.
O que fazer? São muitas as iniciativas, desde as grandes, como investir em novas fontes energéticas (aproveitar nosso sol, nosso vento, nossa cana) e liberar a construção de pequenas usinas por particulares; as medidas de porte médio, como os prefeitos apertarem a legislação, para não deixar impermeabilizar o solo ainda mais e criarem dificuldades para a circulação de automóveis particulares. E as ações que podem ser consideradas mais simples, mas são fundamentais, como campanhas de conscientização do uso racional da água e demais recursos naturais. Gente, o bicho tá pegando e vai piorar, melhor, vai fritar.
