Dois mundos: o nosso e o dos bancos - por Neumar Rodrigues

Jornal O Norte
16/05/2007 às 09:48.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:04

Neumar Rodrigues *

Fui dar uma geral no chamado ?cantinho da bagunça?, quando me deparei com um jornal velho, precisamente de março passado.  O título principal, com aquelas letras em negrito e enormes, era o seguinte: “Bancos batem recorde de rentabilidade”.  A matéria informa que em 2005 os bancos brasileiros tiveram um lucro de 28,3 bilhões de reais, o que equivalia a 22,6% de rentabilidade. Já em 2006, os ganhos chegaram a 33,4 bilhões de reais, representando um retorno de 22,9% sobre o patrimônio líquido do setor.

A ganância dos bancos é tão grande que no ano de 1996, a receita obtida com tarifas chegou à exorbitância de 12,1 bilhões de reais. No entanto, no ano passado (2006) os bancos se superaram: suas tarifas tinham subido em média 293% no período, obtendo uma arrecadação de 47,5 bilhões de reais. Quando se trata de salários pagos no entanto, o processo se inverte. Em  1996 os bancos gastaram 24,9 bilhões de reais em suas folhas de pagamento.

Ano passado esse valor chegou a 38,7 bilhões de reais. Para uma inflação (IPCA) no período de 1996 a 2006 de 92,7% os bancos gastaram com folha de pagamento mais 55%, mas aumentaram as suas tarifas em 293%.

Os juros cobrados pelos bancos em qualquer empréstimo que fizermos são os maiores do mundo. Ainda que indecentes, muitos brasileiros acabam  pedindo dinheiro emprestado para quitar dívidas antigas, trocando o débito dos anos anteriores pelo débito atual. Traduzindo esses números em linguagem clara, isso se chama roubo.

Era de se esperar que o Banco Central controlasse a ganância dos bancos e os punisse como faz com qualquer cidadão que cause algum tipo de dano a outra pessoa ou ao país. Mas isso não acontece porque são as raposas quecuidam do galinheiro. Os banqueiros da iniciativa privada e os banqueiros que deveriam cuidar dos interesses do país e consequentemente do cidadão, se alternam ora atuando no setor publico, ora no privado, e somente quem é doido, em matéria de finanças, cuida do patrimônio alheio em detrimento do seu.

Acusou-se o presidente Lula no seu primeiro mandato de fazer vista grossa a tanto desrespeito ao cidadão e ao país, a ponto de declarar diante das evidências nada saber da roubalheira praticada por pessoas de sua confiança.

Ficou evidente a omissão do senhor Presidente, de maneira covarde aliás.

Mas desse mal sofremos todos nós.

Estamos todos anestesiados diante de tanta injustiça e exploração existente em nosso meio. Agimos como que acostumados com a violência. Pessoas muito próximas de nós são vítimas da violência, mas o máximo que costumamos fazer é comentar com amigos sobre o tema.

Os impostos sufocantes cada ano abocanham mais de nosso suado  dinheirinho, e tudo o que fazemos é nos declarar indignados. Em sinais de trânsito (também conhecidos como semáforos ou faróis) onde há movimento em cidades médias e grandes, uma grande quantidade de crianças estão aí pedindo esmola, e às vezes damos uma moedinha e lá no fundo do coração dizemos para nós mesmos: “eu estou fazendo a minha parte”.

Nossas escolas têm um nível indecente de ensino, mas continuamos a matricular nossos filhos nessas mesmas escolas como se essas crianças não fossem nossos filhos e cidadãos brasileiros. A corrupção come solta nas esferas do serviço público tanto municipal, quando estadual e federal. Sobre muitos políticos existem acusações sérias sustentadas por provas cabais, e mesmo assim esses caras de pau se re-candidatam para algum cargo público e lá vamos nós, inocentes úteis e tontos reelegê-los.

Não nos incomoda mais a diferença entre o salário mínimo ganho por um trabalhador e o que ganham políticos e juizes. Os poderosos estabelecem as regras e o povo apenas legitima o que decidiram com seu voto obrigatório.

O Brasil dos ricos e o Brasil dos pobres infelizmente se merecem.

Alguém aí sabe onde consigo empréstimo com taxas pagáveis e justas? No meu banco, onde sou cliente (ou escravo?) há 23 anos, é impossível! Acho que estou precisando dar um grito bem alto: Socorro!

* Jornalista

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