* Por Adriana Diniz
Deus não dá asa a cobra. Coisa cármica. O pontapé inicial da primeira transmissão em cores de um mundial de futebol, em 1970, foi visto por um seleto grupo de brasileiros, que teve acesso à transmissão em caráter experimental feita pela Embratel. E põe seleto nisso: o general do Exército e presidente-ditador Emílio Garrastazu Médici (cruzes) foi um dos privilegiados.
A maioria dos brasileiros, como eu e minha família, não viu o Brasil e seus craques de pernas ágeis e bem torneadas, como Pelé, Rivellino, Tostão, Gérson, Clodoaldo, Carlos Alberto e Jairzinho, serem tricampeões em verde e amarelo, na final contra a Itália, no México. Mas a Taça Jules Rimet não perdeu seu brilho, mesmo em preto e branco.
Quatro anos depois, os aparelhos de TV ainda funcionavam a válvula, mas com a evolução tecnológica que permitiu a popularização dos equipamentos, foi possível assistir à Copa do Mundo da então Alemanha Ocidental ao vivo e em cores. Feliz da vida, na sala de casa, sob os olhares atentos dos meus pais, vibrei ao lado do primeiro namoradinho da adolescência com o azul e o amarelo do uniforme da Seleção, apesar de ela não ser mais a Canarinho. A Alemanha, dona da casa, venceu a Laranja Mecânica, que antes despachou a equipe de Zagallo para um amargo terceiro lugar. Mas o resultado final não embaçou a realização daquele sonho de criança.
Da válvula à TV de LED, muitas décadas se passaram. E agora, em 2014, a história se repete. Mais uma vez, engrossarei as linhas dos sem tecnologia de ponta. A última invencionice é um formato de arquivos em vídeo batizado de Ultra HD ou simplesmente 4K, equivalente a quatro vezes a resolução Full HD. É utilizada em cinemas digitais e foi testada pela Fifa durante a Copa das Confederações.
Nessa “Copa das Copas”, três partidas terão a tecnologia 4K, todas no Maracanã – jogos das oitavas de final, em 28 de junho; das quartas de final, em 4 de julho; e a grande final, em 13 de julho. O número de telespectadores que terão acesso ao sinal, transmitido para 11 cidades-sede, exceto São Paulo, mais uma vez, será restrito.
Não tem problema. Especialistas afirmam que essa nova e megapoderosa resolução terá que evoluir muito para disponibilizar conteúdo e aparelhos acessíveis, mas acredito que isso aconteça até 2018E quem sabe vou realizar um novo sonho, desta vez em plena maturidade: ver a Seleção Brasileira jogar tendo ao lado um netinho (a).