*Laura Conrado
“Ah, você faz terapia? O que aconteceu com você?” junte a frase com uma cara de desdém. Foi o que uma mulher me disse, anos atrás, numa conversa despretensiosa num aeroporto. Eu, educadamente, respondi que não compartilho da ideia atrasada e preconceituosa de que só os loucos e problemáticos vão à terapia. A psicoterapia é para qualquer um e vale não só para casos mais graves, mas para qualquer pessoa que quer se conhecer e fazer escolhas além das convenções sociais e da mediocridade.
Semana passada, assisti à peça “Divas no divã”. Numa sessão de terapia onde uma mulher comenta os encontros e desencontros da vida. O ponto alto é quando a personagem descobre o porquê de ter aberto mão de seus sonhos (os famosos traumas), e decide ir atrás deles mesmo que para isso ela tenha que assumir alguns riscos. Afinal, quem quer aprender a dançar tem que contar com a queda; quem quer um grande amor pode levar alguns foras.
Temos a ideia de que divas são aquelas celebridades que cruzam o tapete vermelho, que vestem alta costura e não borram a maquiagem nem num calor de 40°. Para mim, é muito diva quem procura ajuda profissional, resignifica com seu passado, enfrenta seus medos e se aceita como é. Sou muito fã das divas que pegam ônibus, fazem seu próprio dinheiro, conhecem seus limites e acordam motivadas a realizar seus sonhos.
Voltando à gentil mulher que conheci no aeroporto, assim que anunciaram o embarque do meu voo, antes de me levantar, retribuí a indiscrição. “Seu lifting ficou ótimo, você parece ser superjovem.”
Ok. Eu preciso mesmo de terapia.
