Leila Silveira Miranda
Professora, Psicóloga
Se seu filho/filha ou aluno (a) está em processo de alfabetização e encontra bastante dificuldade em aprender a ler, escrever e soletrar, fique muito atento: ele (a) pode ter dislexia.
A definição da dislexia, para a Associação Brasileira de Dislexia, é uma dificuldade acentuada que ocorre no processo de leitura, escrita, soletração e ortografia. Não é uma doença, mas um distúrbio de aprendizagem. Ela torna-se evidente na época da alfabetização, embora, mesmo com uma boa instrução, inteligência adequada, oportunidades sócio-culturais e sem distúrbios cognitivos. A dislexia independe das causas intelectuais, emocionais e culturais.
É hereditária, com alterações genéticas que afetam uma área do sistema nervoso central, prejudicando o aprendizado da leitura e da escrita em diversos modos e graus.
Esse transtorno de aprendizagem é o de maior incidência em sala de aula e atinge mais meninos do que meninas, na proporção de três garotos para cada garota. Segundo a Organização Mundial de Saúde, 8% da população mundial é disléxica. O número sobe para 15% em pesquisas realizadas pela Associação Brasileira de Dislexia.
O perfil de uma criança disléxica é aquela que normalmente tem um bom desenvolvimento e adora ir à escola, até o momento em que a professora começa o processo de alfabetização usando as letras e o ditado, o monstro dos disléxicos.
Muitas vezes os pais acreditam que o rendimento escolar do filho está ruim devido a outros problemas, talvez preguiça ou mesmo má vontade; o filho é tachado de burrinho pelos alunos da classe e criticado pelos pais em virtude do baixo aproveitamento na escola, sendo que ele sofre de um problema real e os pais acabam não se dando conta disso.
A criança disléxica demanda mais tempo para ler e escrever, sendo essas tarefas cansativas. A dificuldade com a leitura e escrita deixa a criança insegura, frustrada, por não acompanhar seus colegas de sala, e deprimida por se sentir para trás.
A dislexia não tem cura, mas tem como ser tratada e acompanhada. Se isso não for realizado desde cedo, os prejuízos dessas dificuldades poderão refletir também na vida profissional quando essas crianças se tornarem adultas.
O tratamento deve ser multiprofissional, envolvendo as áreas de neurologia, psicologia, fonoaudiologia e psicopedagogia. Os professores têm um papel fundamental na vida dessas crianças. Eles devem ter consciência que é na escola que o aluno desenvolve seu aprendizado e vivencia experiências.
Compreensão e saber quais as limitações de uma criança disléxicas são essenciais para que os educadores ressaltem seus pontos fortes, como a oralidade, e trabalhem os pontos fracos.
Outra boa recomendação: fazer alguma atividade física, de preferência de escolha da criança. Isso pode ajudar na reconquista da sua auto-estima, mostrando para a criança que todos têm suas dificuldades e qualidades.
De acordo com a Constituição federal, o disléxico tem direito a receber ajuda nas leituras e de não fazer nada por escrito, inclusive em vestibulares e concursos públicos. As escolas e universidades são autorizadas legalmente a avaliar esses alunos apenas oralmente.
Todos devem ter ciência de que a criança disléxica possui uma dificuldade de caráter permanente e duradouro, o que não a impede de aprender a ler e escrever, mesmo sendo com alguma dificuldade.
Aqui vai algumas dicas para pais e professores:
O aluno deve sentar-se próximo ao professor, de modo que este possa observá-lo e encorajá-lo a solicitar ajuda.
Avaliar suas habilidades e conhecimentos nas respostas orais.
Valorizar os trabalhos pelo conteúdo, desconsiderando os erros ortográficos.
Lembrar que o disléxico leva mais tempo que os demais para terminar as tarefas.
Evitar que tenha que ler em público.
Permitir o uso do gravador, uma vez que escutar e escrever simultaneamente não é fácil.
Propiciar um ambiente de trabalho silencioso e sem distrações.
Permitir o uso de calculadoras, de corretores ortográficos, do vídeo, do computador.
Ensinar a resumir anotações.
Optar por deveres de casa, curtos e motivadores, sem muita leitura e escrita.
Propiciar aulas de apoio individuais, levando em consideração as dificuldades mais relevantes apresentadas pelo aluno.
Aceitar que se distraia com maior facilidade que os colegas, posto que a leitura lhe exige um super-esforço.
Entregar para o aluno um xerox ao invés de fazê-lo copiar grandes textos do quadro negro.
Estimular a autoconfiança do aluno destacando suas competências em outras áreas – música, esportes, artes, tecnologia etc.
De acordo com Ron Davis (engenheiro, que superou a dislexia), ela é um dom e não um problema. Dom porque as pessoas disléxicas apresentam uma visão tridimensional, como se tivesse um terceiro olho, o que as torna capazes de grandes feitos, como alguns dislexos famosos: Agatha Christie, Albert Einstein, Charles Darwin, Cher (cantora), Hans Christian Anderson, Leonardo da Vinci, Pablo Picasso, Robin Williams,Thomas A. Edison, Tom Cruise, Vincent Van Gogh, Walt Disney e Whoopi Goldberg, entre outros.
Caro leitor, sua participação é muito bem vinda.