Direito de morrer, segundo Nava

Jornal O Norte
Publicado em 21/01/2013 às 19:48.Atualizado em 15/11/2021 às 16:56.

Escrevi e publiquei um livro sobre Pedro Nava, que foi prosador, poeta, pintor. Que foi o maior memorialista brasileiro do século passado. Começou tardiamente, se se pode usar o advérbio quanto se conhece a vasta obra que legou.



Suicida aos 80 anos, poucos sabiam da vida quanto ele. Seus livros o revelam de corpo inteiro. Mas foi também um médico notável, que se identifica pelo que deixou escrito. Ele pode ser admirado agora que os colegas, discípulos de Hipócrates, tanto lançam mão do precioso instrumental que a tecnologia disponibilizou para diagnosticar e tratar os pacientes, para salvar-lhes a vida.



Em um de seus livros, observa o grande mineiro de Juiz de Fora: “Conhece-se o médico que sabe o que quer pela apalpaçãoe. Não é amassar como quem amassa pão. No princípio, simples aplicação da mão bem espalmada – calor, frio, suor, secura. Depois, a apalpação superficial – pele, deslizamento, turgência. Depois, os músculos, sua resistência, moleza, renitência. O ventre em tábua. Em seruida as vísceras. Os pontos dolorosos à compressão, à descompressão. Bordo do fígado, ponto do baço, moleza do intestino, útero grávido, bexiga cheia, fecaloma; alça sigmóide contraída correndo sob os dedos como charuto ou rolete ou linguiça”.



E segue o médico descrevendo o exame minucioso para descobrir a enfermidade. Uma lição útil aos jovens que fazem a universidade.



O mais fantástico na vida do futuro médico é o que ele vai tirando da experiência adquirida na exploração dessa coisa que é o corpo humano. “Ele é admirável sempre. Admirável no crescimento, no milagre da adolescência, na saúde plena e na arritmia da idade madura, da vida em sua pujança, transbordamento na reprodução. Igualmente admirável na impotência, nos desequilíbrios da velhice, na senectude, na cacoquimia, na doença, na desagregação e na morte”.



Fala final: “O grande equívoco de todos – doentes e médicos – é julgar que prolongando a vida por alteração de condições, estamos combatendo a morte. Jamais. Tanto quanto imbatível, ela é incombatível. Prova: só ampliamos vida que existe. Em seu lugar não temos o poder de colocar mais nada porque na medida que ela se retrai, diminui e bate em retirada, cada milímetro é conquistado implacavelmente pela morte triunfante.”



Manoel Hygino - escreve no jornal Hoje em Dia

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