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Segunda-Feira,7 de Julho

Dilma golfou

Jornal O Norte
Publicado em 02/06/2011 às 08:42.Atualizado em 15/11/2021 às 17:28.

Helder Caldeira (*)



A presidenta Dilma Rousseff está vivendo a experiência de ser um bebê que acaba de chegar ao mundo político. Essa cria começou a ser gestada em 2005, quando, para o bem do Brasil e de seu próprio governo, Luiz Inácio Lula da Silva defenestrou o companheiro José Dirceu de seu primeiro governo e a então ministra das Minas e Energia assumiu a Casa Civil. A partir daí, a gestão Lula decolou. No ano seguinte, tão logo foi reeleito nas urnas, começava a caça por um nome para a sucessão em 2010. Não fosse o monumental escândalo do mensalão em que se meteu, Dirceu seria um candidato quase natural. Talvez para sorte do país, Roberto Jefferson colocou a frauda suja na frente do ventilador e mudou o destino da nação.



O nome de Dilma Rousseff já circulava sem unanimidade quando o senador oposicionista José Agripino Maia levantou a bola para que o adversário descesse a mão durante uma fatídica audiência na Comissão de Infraestrutura do Senado Federal, onde Dilma massacrou o político norte-riograndense – e por tabela toda oposição – numa resposta histórica e emocionada sobre sua postura durante a prisão política no governo militar. Até hoje, o vídeo dessa querela pública é um clássico na internet. Naquele dia, Dilma entrou no prédio do Senado como um dos nomes cogitados à sucessão e saiu de lá como a candidata oficial do PT à Presidência da República. Como eu digo no meu livro “A 1ª PRESIDENTA” (Editora Faces, 200 páginas, 2011), no capítulo especial em que trato deste exato assunto, estávamos diante da “gênese de um vulcão”.



De lá até sua eleição, a gestação não foi fácil. É fato que o PT contou com a especial ajuda da oposição hibernal e tresloucada, que primeiro patinou numa surreal disputa interna entre Aécio Neves e José Serra, depois demorou uma eternidade para escolher um vice cara-pálida – elegante, bonito, gostoso e só! –, até finalmente atolar numa arrogante e duvidosa candidatura de Serra. No fundo, subestimaram Dilma Rousseff e, sobretudo, a capacidade lulística de parir sua sucessora. A oposição foi massacrada com a eleição histórica da primeira mulher para governar o Brasil.



O país acabou entrando numa espécie de “chá de bebê” com a novidade. Entre a eleição e a posse, o novo governo fechou-se em copas e fez um período de resguardo. Pouco de falava. Pouco se sabia. Os nomes que iriam compor o novo governo eram anunciados à conta-gotas e o Brasil só viu a presidenta no dia de sua posse, quando a cria nasceu de fato e a faixa verde e amarela vestiu seu dorso. Não por acaso, os primeiros cem dias de governo foram absolutamente silenciosos, mas também estagnados. A herança maldita deixada pelo desgoverno final de Lula começou a cobrar sua fatura e o país balançou diante da iminência de uma crise econômica e fiscal e de uma assombrosa inflação batendo à porta e dando as caras na vida dos brasileiros.



Como estamos falando do PT – um partido que provou-se tão fisiológico e sem ética como todas as demais grandes agremiações políticas do Brasil –, não demorou muito tempo para crises institucionais, envolvendo principalmente corrupção e desmandos, assolarem o novo governo. Sem grandes movimentos no quesito gestão administrativa e tão pouco naquelas ações politiqueiras que atraem a aprovação da grande maioria do incauto eleitorado brasileiro, Dilma Rousseff começou a colher as tempestades por ter semeado ventos com nomeações suspeitas e desfavoráveis para seu primeiro escalão. Antes mesmo da posse, o então futuro ministro do Turismo já protagonizava o escandaloso caso do motel maranhense pago com dinheiro público. Em seguida foi a vez a ministra da Cultura sofrer pressão pública e política e fazer de sua pasta o alvo preferencial para os tiros alheios. A crise econômica também colocou em xeque a credibilidade e a competência do ministro da Fazenda, em especial por ser a presidenta uma extraordinária economista.


Para concluir o período, a “mamadeira final” desse neném foi a denúncia de enriquecimento milionário e duvidoso de Antônio Palocci, o ministro-chefe da Casa Civil e um dos principais nomes do governo Dilma.



Tal como no governo do ex-presidente Lula, a história se repete. A administração está engessada e o PT consegue levar para a antessala da Presidência suas piores facetas, colocando a principal cadeira do país em situação perigosa. Há uma espécie de déjà vu na atual querela. O Palocci de hoje faz lembrar o Dirceu de ontem. Aliás, não será grande surpresa se um dia descobrirmos que a bomba plantada no colo do ministro da Casa Civil tem origem no “fogo-amigo”, quem sabe até dentro do próprio PT, numa vingança fria e calculada daquele que foi queimado no passado sem grande apoio dos seus pares. E engana-se quem pensa que essas besteiras não acometem os nossos ditos notáveis. Nas últimas décadas, a política brasileira está mais para guerra de egos do que para uma ciência propriamente dita.



Mas como toda crise trás consigo riscos e oportunidades, talvez estejamos diante dos primeiros movimentos peristálticos do pueril governo Dilma Rousseff. Se encontrar uma forma de conduzir o período conturbado com eficiência, rapidez e jogo de cintura político, é possível que a presidenta saia da estagnação e comece, de fato, sua administração. Com uma ajudazinha especial de “padim” Lula a dar-lhe tapinhas nas costas, Dilma finalmente golfou. Agora resta saber quando é que irá começar a engatinhar e, quem sabe, dar seus primeiros passos efetivos.



(*) Escritor, articulista político, palestrante e conferencista

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