Marcelo Braga
Estava lendo o Diogo Mainardi na edição 2073 de Veja, disparando sua metralhadora giratória. Quase sempre concordo com ele, salvo quanto a um ou outro exagero. O que acaba sendo uma iminência de concórdia, mas… vá lá! Deixemos assim.
“Ser o mais importante intelectual brasileiro é igual a ser a prostituta número quatro do Cazaquistão.”, está em destaque no texto do eminente colunista. Não tenho o costume de explicar piadas, então… E também não vou ficar dando nome aos bois, que isso já é dever da vaca. Então!
Há mesmo no Brasil essa mania de alardear monossílabos, como se fosse obrigatório haver algazarra para se conseguir atenção. Agora, sim, explicarei! (em anexo, as desculpas…). As coisas boas independem de propaganda. Ah, disso todo mundo sabe! Sim, eu sei. Mas não me custa repetir o óbvio (ululante – só porque me é dificílimo desconectar essas duas palavras… Culpa sua, Nelson, onde quer que esteja!). Agora, o menos óbvio: aqui, a propaganda do ruim vende demais! Neste país, se o vermelho no outdoor for maravilhoso, até o gato escaldado compra um bocadinho de chama… e ainda se esforça para sorrir em banho-maria. Convoco só mais duas testemunhas, Meritíssimo! Que entrem Millor e sua charge sobre os “escritores que se acham eternos”. E tudo na mesma edição da revista! Pausa para risos (ou fôlego…).
Certa vez, recebi uma visita. E falávamos sobre sua adoração pelos livros espíritas. Não tenho preconceito quanto a isso; mas, a obrigação de vender o meu peixe. E passei a elogiar a literatura de ficção. Pus minha pequena biblioteca à disposição. Um pouco mais tarde, saquei da prateleira da estante um exemplar de meu livro de contos, “Grão”, e o entreguei à visitante (por um instante, senti-me sob a mira onipresente da metranca de Mainardi). Ela perguntou se o livro era bom; eu assenti, sorrindo. E logo emendei que o autor era um pouco chato, meio convencido, pois já o tinha ouvido numa entrevista. Certo de que, a essa altura, ela já entrava na minha brincadeira – pois manuseava muito o livro, passando as páginas, reparando bem na capa e na contracapa –, preparei-me para as risadas. Que não vieram. A visitante continuou séria, folheando o livro, bastante interessada. Foi quando perguntou se eu o havia comprado aqui em Montes Claros ou lá em BH. Fiz uma pausa, quase encurralado. “Mandei fazer… mil exemplares”
. O “como assim?” dela veio com a testa franzida. Repeti que a tiragem do livro tinha sido de mil exemplares, e ver a surpresa sair daquela boca linda e aberta fez-me pensar em mexer com publicidade.
Há certas inversões de valores no Brasil que constrangem. Sucesso, já há algum tempo, quem faz é jogador de futebol e dançarina de axé. Os simples mortais que sigam décadas estudando. Um empreguinho digno pode nos sobrar no meio do caminho.
Ao menos, agora, o mais importante intelectual do país é um escritor. Eu também sou um escritor (é o que sigo dizendo a muitos, e o que muito poucos dizem de mim). Orgulho-me disso! Ou daquilo? Nem sei mais… Só sei que uma nação que se preze não pode imprimir calendários sem um “dia do marketing pessoal”. Por que não em agosto? Pode ser que a Playboy me dê razão. Quanto ao mês…