Ronaldo Duran
Romancista
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“A que horas a gente se encontra lá”, pergunta o colega no telefone. “Bem, umas oito, tá?” O noivo dá a dica. Desligou o celular. Pelo adiantado da hora, três da tarde, já foi arrumando o local de trabalho, ajeitando cadeira, limpando mesa, pondo os lápis e canetas e réguas e borrachas, tudo no devido lugar. Perfeccionista? Nem tanto. O que odiava era chegar de manhã e vê bagunça do dia anterior entupindo a mesa. No corredor, dera de cara com uns companheiros que o felicitaram que a noite seja quente. Nem aí para o duplo sentido. O que importa é que seria a última noite de solteiro.
Amanhã, por volta dessa hora estaria com o anel no dedo, e embarcando numa nova fase da vida: a de casado. Para quem pensava que cruzaria os 40 solteraço, casar aos 28 anos é no mínimo inusitado. “Com aquela gata, eu casaria até aos 18 anos”, gritou certa vez na mesa de bar para a turma de noitada.
Para este paisagista de Dracena, nada pode ser convencional. Tem que haver algo apimentado. Foi assim com a esposa. Achava feio o hábito de fumar numa mulher. Se bebesse, pior. O destino aprontou uma. Vai casar com uma fumante nervosa e que bebe sem cerimônias.
Passar a despedida de solteiro no prostíbulo poderia soar convencional, advogaria muitos machos. Uma traição, uma mentira, coisa de homem. Não no caso do paisagista. A noiva sabe que ele irá para o puteiro. Como? Mulher submissa? Gritariam as feministas de plantão.
Os amigos reunidos à porta da casa de prostituição Entre e Saia Moído. Seis no total. Entraram. A mesa reservada. A cerveja gelada. A luz néon. No palco, as novas velhas roupas instigantes nos corpos femininos malhados pela rotina de oferecer fantasia aos outros ao passo que se esforçam para livrar-se do tédio.
Dos seis camaradas, um casaria amanhã. Dois já casados. Os restantes sol teirões, embora tendo namoradas. As meninas eram tão liberais quanto à noiva? Bem, cinco sabiam que os garotos estavam no puteiro. Menos a namorada do promotor, mais conservadora. Nem por isso, o rapaz deixou de arrumar um jeito para comparecer à festa e felicitar o noivo.