*Aline Monteiro
- Não posso dar mais esperanças para o senhor.
- Quantos anos, quantos meses, quantos dias? Preciso saber.
- Podem ser 30 dias. Ou 60. No máximo seis meses. Seus rins estão destroçados.
Nessa época ele morava em Recife com seus 7 filhos. O médico até recomendou que ele voltasse a Minas o mais rápido possível, para morrer perto da família.
Cansado, triste, sem saber o que fazer, ele voltou para casa e decidiu levar os quatro filhos maiores para o cinema. Estava passando A Gata Borralheira. Ele saiu de casa de mãos dadas com dois filhos; os outros dois seguravam a mão de um dos irmãos. Ao atravessar a rua, com a cabeça bem embaralhada com a notícia da morte próxima, não conseguiu evitar que o filho mais novo corresse. Foi arrastado por um carro.
- Meu filho está morto!
Foi um grito sofrido, dolorido. Uma morte não avisada. Mas o filho suspirou. E foi levado ao hospital. Sobreviveria. Viveu por mais de 50 anos.
Logo que o filho saiu do hospital, o pai juntou as malas e pegou o navio para o Rio de Janeiro. Voltou para Minas com a família. Morreu seis meses depois.
#Esta história aconteceu em 1927. O homem desenganado era meu bisavô. O filho atropelado, meu tio. Meu bisavô faleceu em 1928. Eu conheci esta história enquanto conversava com a Tia Ylza, a única filha viva do meu bisavô e testemunha do atropelamento do irmão e da morte do pai.
Família da gente às vezes surpreende... cada história bacana que a gente deixa de saber porque nunca se preocupou em perguntar.