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Sábado,5 de Julho

Descortinando a sexualidade humana

Jornal O Norte
Publicado em 06/04/2011 às 09:05.Atualizado em 15/11/2021 às 17:25.

Leila Silveira (*)



A cada dia que passa, a cada episódio homofóbico relatado pela mídia televisa ou impressa, onde vítimas do preconceito desmedido são brutalmente discriminadas quando não violentamente espancadas nas ruas, nos bares, nas escolas, nos quartéis, no trabalho, nos templos, nas religiões, mais surpresa e perplexa me deparo diante de tanta intolerância e falta de sensibilidade e porque não falta de conhecimento do que realmente deveríamos entender por sexualidade humana...



Desde o século passado, graças aos estudos de Freud, a psicologia já compreendia a natureza bissexual simbólica de qualquer criança recém nascida, não do ponto de vista puramente genital, mas sim sob o aspecto pessoal, a ser traduzido futuramente por uma escolha consciente diante das possibilidades de escolha do tipo de prazer que nos moverá como adultos...



Na realidade, somos muito mais multifacetados sexualmente do que o próprio Freud preconizava à sua época de forma corajosa e revolucionária... O homem, movido à dor e ao prazer, faz de suas preferências e desejos, suas experiências sexuais de diferentes maneiras, que vão muito além das relações puramente genitais.



No best seller “Comer, rezar e amar”, fica muito claro que a personagem em suas andanças pelo mundo afora, depara e vivencia com igual prazer diferentes situações prazerosas, que lhe proporcionam gozo profundo, e de igual intensidade, na relação com a comida, com seu espírito, com seu parceiro...



Não é toa que Lacan, na esteira iniciada por Freud, e complementando sua abordagem e teoria, afirmava que a nossa sexualidade é múltipla, querendo dizer com isto que todo e qualquer ser humano pode experimentar gozo com qualquer objeto no lugar do puramente sexual.



Assim, existem pessoas que “gozam” com o dinheiro ganho, com a vitória conquistada, transando com as diversas coisas da vida como arte, comida, bebida, conhecimento, poder...



Nesta nossa realidade cada vez mais virtual e consumista, onde o ter sobrepõe ao ser, onde a imagem é mais importante que o fato, onde a embalagem supera o conteúdo, independente se gostamos de homem ou mulher, são cada vez mais variadas e infinitas nossas possibilidades de sentir prazer, extrapolando a convenção tradicional reduzida a apenas duas possibilidades, dois tipos de objetos, duas cadastradas e oficiais opções...



Cada um de nós tem suas preferências, algumas gostam de peitos cabeludos, outras adoram homens tímidos, outras se sentem no controle com parceiros mais delicados, outras preferem o barato de sentirem-se dominadas, outras já preferem detalhes mais sutis, enfim não possui um padrão único, uma receita fixa, um jeito melhor de se obtê-lo. No sexo, nas formas, na intimidade, as variações são infinitas, sendo impossível classificar as formas que cada um encontra para sentir prazer...



Diante de todo este cenário, diante de todo este espectro, onde prevalece à imaginação e o universo psicológico e emocional de cada um de nós, não faz o menor sentido “rotular” pejorativamente alguém de ser “hétero” ou “homo”, e muito menos fazer disto uma questão moral ou religiosa, base de todo o ódio e preconceito que ainda vitima tantas pessoas, humanas como nós, gente como a gente, cidadão como qualquer outro, que apenas escolheram, optaram por uma das múltiplas formas diferentes de amar e serem amadas da que nós nos propusemos...



Só mesmo a ignorância, a intolerância, o fundamentalismo, a crueldade e a falta de sensibilidade e imaginação pode levar uma pessoa em pleno século XXI a acreditar apenas nas convenções sociais arraigadas por puro preconceito, limitando a si e ao próximo de querer desfrutar e descobrir entre as infinitas variações possíveis, aquela que realmente nos remete nosso desejo.



(*) Psicóloga

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