Por Eduardo Costa
Quem exerce qualquer função pública tem que estar preparado para o contraditório e, eventualmente, até para a incompreensão. Assim é que, se o texto fala de política, haverá sempre um e-mail acusando o repórter de ser desse ou daquele partido.
Da mesma forma, se o tema em questão é polícia, há um enxame de comentários atribuindo ao profissional preferência por essa ou aquela corporação.
Tomemos como exemplo o episódio horroroso da semana passada quando, de novo, nossas polícias deram um show de abuso de poder e falta de comando no meio da rua. Tanto a Polícia Militar quanto a Civil deveriam refletir sobre três palavras que estão marcando nossa vida nesses tempos difíceis: imobilismo, insegurança e intolerância.
Imobilismo porque, se houvesse seriedade no trato da relação entre as forças de segurança do Estado, episódios de estupidez explícita não teriam mais lugar em nossas ruas, porque os protagonistas saberiam do quanto lhes custaria caro. Mas, como temos eleição de dois em dois anos, a ordem é evitar atrito de qualquer natureza, deixar de dar solução para os graves problemas e ir levando... Tocando em frente!
Insegurança porque, não fosse o clima de absoluto medo em que vivemos, jamais um policial iria atirar, de dentro de casa, em dois suspeitos, sem antes indagar sobre as intenções deles.
Intolerância porque, sabemos todos, não fosse a sede de briga entre as duas partes, as feridas não cicatrizadas, desinteligências como as de quarta-feira seriam facilmente resolvidas.
Vamos verificar os dados – pelo menos aqueles que vieram a público. Um cabo da PM estava em casa e, de repente, ouvindo um grito da mulher, olhou para a rua e viu dois homens, à paisana, armados. Não teve dúvidas: atirou nos dois. Eram dois policiais civis de outro município, e um deles, escrivão, com arma particular. Erro grave? Sim. Mas, à luz do direito, é o que chamam de “erro de tipo”, isso é, fato que altera a percepção da realidade por parte do sujeito, mas que, se fosse verdade, legitimaria a conduta praticada.
Então, o que deveria fazer o PM? Socorrer imediatamente os colegas e procurar uma delegacia. Mas, de repente, a rua pacata do bairro Juliana encheu-se de companheiros dos baleados, ávidos de justiça, e, como de praxe, apareceram muitos do outro lado.
Estabeleceu-se que o PM agressor seria levado a uma delegacia, mas, no trajeto, eis que um maluco decide mudar de destino e ir para um batalhão. Mais briga na rua. Por fim, uma delegada teve que entrar no carro da PM, ao lado do acusado, para acalmar os civis e levá-lo a uma delegacia.
Para nós, que pagamos a conta, ficaram duas certezas: a primeira é a de que a polícia que nos faz falta todo dia aparece quando não deve: e, se as corregedorias não punirem para valer, de tanto esses desmiolados treinarem, um dia vão conseguir. Aí, nossa vergonha vai correr o mundo.
