* Manoel Hygino
Enquanto esperneiam os réus do mensalão para não cumprirem as penas a que foram ou que estão sendo condenados, passo uma vista d’olhos sobre acontecimentos do século passado. Muitos fundadores da Internacional Comunista, russos ou não, foram exterminados por Stalin. Como registra Isa Salles, situação praticamente idêntica foi vivida pelos líderes comunistas não russos que acreditavam poder gozar do direito de asilo na Rússia, prometido pela Constituição Soviética.
Boris Souvarine anotou: “Não existem mais eleições. A democracia operária de que fala a literatura oficial não passa de ficção, tudo se resumindo à ditadura da burocracia”. A própria Krupskaia, companheira de Lênin, se tornou vítima de Stalin, seguiu de perto a ação do sucessor e dele foi vítima. Ela confessou: “Não ponho em dúvida as decisões unânimes da Comissão de Controle que Stalin usou para me ameaçar, mas não tenho tempo nem forças para esta estúpida disputa. Sou um ser humano e meus nervos estão tensos a ponto de romper-se”.
Ai dos que se opunham ao todo-poderoso! Os que não conseguiam da Rússia fugir durante seu reinado, foram feitos prisioneiros ou mortos. É o caso de Ganetsky, que visitou a sala de tesouro bolchevique, foi fuzilado em 1937, não valendo o pedido de Krupskaia para salvá-lo da ira de Stalin, que mandou matar todos os amigos de Lênin.
O alemão Hugh Eberlein que, por ordem de Rosa Luxemburgo, se opôs, após 1919, a uma nova Internacional, fugiu de seu país com o advento de Hitler. Escapou deste, mas não de Stalin. Preso, em 1937, durante as grandes purgas, morreu de desgosto na prisão, ao saber do pacto Stalin-Hitler e ser informado de que seria entregue à Gestapo. Tinha 57 anos.
Bela Kun, em 1939, foi encontrada na prisão, morta em circunstâncias jamais suficientemente esclarecidas. Com 51 anos, Jozsef Pogany foi fuzilado em 1937. Que lista imensa. Em dezembro de 1925, Stalin gritou para a oposição no congresso do partido: “Vocês querem o sangue de Bukharin? Saibam que eu não vos darei”. Condenado à morte em março de 1938, quando somava 50 anos, Bukharin, foi executado pouco depois.
Prisioneiro, em agosto de 1936, Zinoviev foi executado, quando já parecia um espectro. No mesmo ano, Lev Borisovich foi condenado, quanto Karl Radek, condenado a 10 anos de prisão, foi assassinado na prisão, aos 54 anos. Declarou antes: “É um demônio”, repetia-se ao dirigente máximo soviético.