De linguagem e de estilo - por Antonio Augusto Souto

Jornal O Norte
Publicado em 22/10/2007 às 15:25.Atualizado em 15/11/2021 às 08:20.

Antonio Augusto Souto



Leitora generosa, pelo correio eletrônico, elogiou os textos que venho publicando, todo sábado, neste honroso espaço, ao lado do baita cronista Georgino Júnior. Também formulou algumas perguntas, a que tentarei responder, no final.



Não vou declinar-lhe o nome, porque teria que divulgar seu e-mail. E não me vejo autorizado a fazê-lo.



Sinto-me na obrigação de agradecer os elogios e declarar que não me julgo merecedor deles. Ainda sou aprendiz. Ainda persigo a linguagem que gostaria de manejar, em crônicas.



Fui professor de língua portuguesa durante muitos anos. Tempo mais que suficiente para deixar marcas. Em razão disso, continuo escravo do formalismo gramatical. E a expressão que busco deverá ser leve, solta e, de certo modo, pitoresca. E sem qualquer agressão à sintaxe, é claro.



Uma prova de que sou ainda aprendiz é que, concluída a redação de um texto, gosto dele. No dia seguinte, na releitura costumeira, desgosto e o modifico bastante. Ao vê-lo publicado, novamente não gosto. Dá vontade de mexer nele, tirar e pôr, usar cinzel... Mas aí, Inês é morta!



Embora não tenha maiores pretensões, espero, um dia, encontrar a linguagem do meu sonho. Aí, generosa leitora, talvez eu consiga produzir crônicas que me agradem, realmente, e mereçam, pelo menos em parte, os elogios que me comoveram.



Devo confessar que fico mais à vontade fazendo os poeminhas que publico, em outro jornal, todo domingo. Sinto-me livre para metrificar ou não, valer-me da rima e do ritmo ou navegar em versos brancos e arrítmicos. Mas continuo perseguindo a linguagem que tenha alguma marca pessoal e intransferível.



Por falar em linguagem e estilo, vem-me à lembrança o fato de Reginauro Silva, que edita este O NORTE com extrema competência, ter criado, faz muitos anos e no “O Jornal de Montes Claros”, uma forma de expressão que me encantou: estilo quase telegráfico. Frases curtíssimas e sempre na ordem direta. Adjetivação pouca e economia de conectivos, que somente se usavam em certos casos e em atenção a determinadas regências.



Não sei o motivo que levou meu querido amigo a renegar sua criação. Lembro-me de que o estilo era fortíssimo, tanto que eu, após ler o texto vazado nele, não conseguia livrar-me de sua influência e lia o restante do jornal, no mesmo ritmo.   



Para encerrar, retorno ao e-mail que motivou esta crônica, para satisfazer a curiosidade da leitora. Inicialmente, esclareço que a ilustração de cada texto é encargo do redator. A mim, cabe somente bater palmas. Na minha opinião, quem pretende escrever deve, antes de mais nada, ler  ler  muito. Depois, é só começar. Minha inspiração está no dia-a-dia, nas coisas que acontecem comigo e em torno de mim. Em certos casos, deixo que a memória venha à tona. Crônica é espécie intermediária do lírico e do épico. Foi criada no Brasil, por Machado de Assis. O curioso é que quase todo grande poeta acaba virando excelente cronista. Exemplos: Mário de Andrade, Cecília Meireles, Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira. Dos cronistas que admiro, destaco Henrique Pongetti, Paulo Mendes Campos, Rachel de Queiroz, Rubem Braga e Clarice Lispector. Vez ou outra, vejo nos jornais, inclusive os daqui, alguma crônica bem urdida. Tenho, no prelo, dois livros de poesia. Ainda não sou possuidor da coragem necessária para formular livro de crônicas.



Um beijo, leitora generosa.



P.S.1  Quem se acha amparado pelo Estatuto do Idoso tem o direito de mandar beijos para qualquer pessoa.



P.S.2  Gostaria de ver o desempenho da enorme poeta Dóris Araújo, em crônica.

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