Antônio Augusto Souto (*)
Já li e ouvi que cachorro sabe identificar, com facilidade, quem gosta de cachorro. Tenho comprovado isso, quando visito o Remanso: Brenda Lúcia, que é poodle toy, faz festa quando chego. Algumas vezes, sobe em sofá, para jogar-se, totalmente entregue, nos meus braços. Imagino que ela não faria tal coisa, se não tivesse absoluta certeza de que seria aparada e aconchegada.
Nina, a yorkshire de Rodrigo, faz a mesma coisa, quando visito o neto mais novo. E demonstra que sabe que gosto dela, lambendo-me a cara e as mãos.
Dia desses, percebi que criança também reconhece quem gosta de criança.
Em praia do Ceará, olhei para Luca, que me pareceu ter menos de ano. Ele se achava no colo da mãe, de fralda descartável e servindo-se de mamadeira. Olhou para mim e fez gesto que traduzi como convite a partilhar de sua alimentação. Retribuí com careta idiota e com a simpatia que me foi possível.
Pouco depois, desvencilhou-se do colo materno, mesmo sob censura, e encaminhou-se, tatibitate, para mim. Foi aí que fiquei sabendo que ele era Luca. Pôs a mamadeira na areia e me devolveu, como lhe foi possível, a careta idiota que eu lhe fizera.
Em segundos, Luca estava em meu colo, degustando sua mamadeira. Pai e mãe também se aproximaram e, rapidamente, iniciamos amizade que, ainda hoje, persiste.
O episódio de Luca me fez retroagir, no tempo. Senti-me pai de Cau e Lalá; avô de Sil, Analu, André e Rodrigo. Fui assaltado por saudade do tempo em que tive crianças em minha casa e nas casas das filhas - Rodrigo, o neto mais novo, fez oito anos e já começa a achar interessantes as coleguinhas.
Agora, ao cometer estas mal traçadas, experimento saudade do tempo em que me era possível ser dono de cachorros. Saudade, principalmente, dos dois últimos: Sherlock, um dálmata desajeitado e brincalhão; e Iuri, um poodle toy e ingrato que me abandonou, em segundos de portão aberto.
(*) Escritor