Por Cristovão Barreto
Dando continuidade à Parte I da nossa crônica anterior, permanecemos utilizando como fonte de pesquisa a dissertação de mestrado da professora Maria Ângela Figueiredo Braga e, enriquecemos nossa fonte de informações com o excelente livro Formação Social e Econômica do Norte de Minas dos professores, Marcos Fábio Martins de Oliveira, Luciene Rodrigues, José Maria Alves Cardoso e Tarcísio Rodrigues Botelho, e também com a dissertação de mestrado do professor Marcos Fábio apresentada ao Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Mestre em História Econômica.
Com referência ao livro, podemos afirmar que é uma obra da mais alta qualidade e que, trata não somente da realidade de Montes Claros, mas, de todo o norte de Minas, com uma abordagem econômica e social de profunda relevância. Os autores dividiram a obra em quatro capítulos, que vão desde o processo de desenvolvimento de Montes Claros, tendo o cuidado de salientar a importância da SUDENE, passa pela análise da participação da agropecuária, com seus problemas, enfoca os fatores que promoveram a concentração do desenvolvimento em determinados pontos geográficos da região e, por fim, concluem a obra analisando a participação do negro em todo este processo.
O homem não tem uma visão única dos fatos e, quanto maior for a massa de informação, mais discutível será a escolha a ser feita pelo relator e, também pelo leitor; assim, quando citamos "uma cidade que cresce", e, "a influencia da SUDENE" nesse crescimento, implica que este é um dos pontos de desenvolvimento, sua importância no contexto ao incentivar a industrialização de Montes Claros e também na região, a partir das décadas de 60 e 70. É importante salientar a diferença entre desenvolvimento e crescimento, sendo este, um dos primeiros sinalizadores do outro. É uma condição exigida pelo desenvolvimento. A aferição do crescimento de Montes Claros, neste período, pode tomar como base a evolução da renda, o nível de emprego, a criação de mais escolas, diminuindo o analfabetismo ou mesmo eliminando-o, o aumento da expectativa de vida, a diminuição da mortalidade infantil, um saneamento básico mais eficiente, a retirada da população das áreas de risco e a oferta de habitação para estas pessoas. Estes são alguns parâmetros que podemos usar para aferir o processo de crescimento, sendo importante ressaltar que nossa proposta foi a de fazer uma análise da evolução da cidade nos últimos cinqüenta anos, ou seja, a partir de 1960, sem entretanto deixar de mencionar fatos relevantes que influenciaram a economia de Montes Claros, ocorridos anteriormente.
Como já citado na parte I, a criação da SUDENE e a interligação elétrica com o sistema Três Marias-CEMIG, ocorridos praticamente na mesma época, inicio dos anos 60, alavancaram todo o processo d e industrialização, porém, a pavimentação das rodovias entre Montes Claros / Belo Horizonte, e, Montes Claros/ Pirapora, abriu as portas para a Capital e o Triângulo Mineiro e, consequentemente chega-se ao Sul do pais, principal centro consumidor e também fornecedor de matéria prima. Não podemos deixar de mencionar que, até então, a malha ferroviária, implantada na região em 1926 e, que foi de grande importância para Montes Claros e região pois foi com ela que o comércio iniciou um período de expansão, prevalecendo o setor atacadista que atendia o norte de Minas e sul da Bahia. Este impulso econômico fez com que o sistema financeiro Nacional, na época dominado por Minas Gerais, implantasse suas agências em Montes Claros, assim como os bancos estaduais e da União.
Até então, a classe local que detinha o capital, mantinha o domínio político e econômico e, interessava a esta classe continuar mantendo este controle, entretanto, com a chegada da SUDENE eles perdem parte do poder, em função da entrada de novos capitais, oriundos das empresas de fora que vieram aproveitar os incentivos fiscais.
Com referência à industrialização, podemos afirmar que, no seu inicio, anos 60, não desenvolveu como se esperava, principalmente em função de uma infra-estrutura não adequada. Somente aos poucos o parque industrial vai tomando corpo, chegando nos anos 80 bastante desenvolvido, já com reflexos na transição demográfica, com uma população basicamente urbana, que nesta década 87% já viviam na cidade. Esta mudança vem alterar de maneira bastante profunda a estrutura social, econômica, política e também uma nova configuração urbanística começa a aparecer. Tem início a verticalização de Montes Claros.