Estou a caminho de Davos, para cobrir o encontro anual do Fórum Econômico Mundial. É o 22º ano consecutivo.
Se ganhasse milhas pelas viagens de trem entre Zurique e Davos, teria o suficiente para pagar uma passagem no Orient Express, um dos (raros) sonhos de consumo que tenho.
Aliás, recomendo a viagem. Dura hoje pouco mais de duas horas e meia e é como se você passasse por dentro de um presépio a céu aberto, sempre coberto de neve nesta época do ano.
Recomendo também o encontro anual, que a esquerda infantil acha que é um retiro em que os malvados capitalistas decidem como ferrar assalariados, pobres e desvalidos em geral. Tolice. Se há tal conspiração, ela se dá regularmente nas reuniões de diretoria das grandes corporações.
Davos não toma posições. É um imenso seminário, uma espécie de curso de pós-graduação de quatro dias (eram cinco até o ano passado) sobre o que o mundo debate nos mais diferentes terrenos, da economia à neurociência, da política às artes, de museus a ambiente.
É também a maior concentração de personalidades que o mundo consegue colocar em um mesmo local (no caso, o Centro de Congressos de Davos) ao mesmo tempo.
Por lá passam ou passaram de Bill Clinton a Iasser Arafat, de Fernando Henrique Cardoso a Luiz Inácio Lula da Silva, de Nelson Mandela a Paulo Coelho, do ex-presidente iraniano Mohammed Khatami ao presidente de Israel, Shimon Peres, que lá estará de novo este ano, de Angelina Jolie a Charlize Theron, que este ano comanda ato beneficente contra a Aids na África, de Alexandre Tombini, o presidente do BC brasileiro, a Sadik Omar El-Kaber, seu colega do BC líbio.
Mas a grande maioria é formada pelos executivos das grandes corporações globais que financiam o Fórum Econômico Mundial, que é o nome da entidade que promove os encontros anuais, não o nome do fórum propriamente dito.
Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha de São Paulo
