Raphael Reys
Vós, oh! Pai. Para não dizer que não falou de flores, mantém vivo por noventa anos o piloto mignon de Boeing tropical e voyeur, Marinho Luxúria. Deu-nos, e depois levou para Goiás, a voz angelical de João Leopoldo, um rouxinol campesino. Em nossa urbe temos o ânimo teatral de Diógenes Câmara, e vós para não deixar que falemos que está tudo muito bom, quase estragando; deixou-nos Zizi, o último dos Rochas. Presenteou-nos com o cronista Eduardo Lima, um adepto do Kama Sutra. Com ele prevalece a lei curraleira. É côncavo no convexo!
Mantém até hoje a jovialidade do velho Gelson Dias, devolveste o tabaco ao precioso Georgino Júnior, e tiraste o grito de Galô do Evandro Canzil. Soube recentemente que interrompeste bem na hora a lista dos ex-freqüentadores do bar Tip Top que estavam batendo a caçoleta. Márcio Milo ainda está entre nós!
Enfim, autorizaste o Théo a publicar o tão esperado Théo, uma vida, assim como sugeriste ao Zezão Relojoeiro mudar a sua oficina para a entrada da galeria gay. Deste-nos o cabelo de fogo e a verborréia claudicante de Gilson Capeta, hoje de Jesus, assim como o rodar a baiana de Foguinho e o seu exército de espiroquetas voadores.
Manteve a sofreguidão do Actor Glass Celsão, e pelo que fui informado, ainda consegue intumescer... assim como manteve o apetite de Cula Nobre com o seu prato de bacia esmaltado. Com seis ovos por cima!
Deixou para que seus filhos enchessem o pandu da crua e cruel caninha pura, os botecos e os tira-gostos geniais do Mercado Municipal Centro, assim como as mesas cheias dos Kenturas Kentes.
E como nós saímos do mato, mas o mato não saiu ainda de nós, encheram o nosso comércio de lojas de móveis e eletrodomésticos, só figurinhas repetidas do consumismo exacerbado. Aí, nem o Ateneu de dona Albertina agüenta! Mesmo comandado pelo Coró.
Muitos dos seus filhos, Pai, passam férias nas roças em Miralta e na Ermidinha; e ao voltarem à urbe, dizem que estavam na Europa e nos States. Trocam Paris por Patis, London por Lontra, Japon por Japonvar. Não fazem como o Altamiro Tatu, que trouxe as passagens da viagem à Coréia para esfregar nas fuças daqueles que possam vir a duvidar.
Entre nós, oh! Pai. Alguns dos seus filhos, dos quais não citarei os nomes, pois em virtude dos seus egos cambaleantes e pavônicos, e dos seus complexos de inferioridade, eles dariam o maior piti se eu assim o fizesse. Cometerem, coletivamente, um haraquiri baiano!
Pedimos agora uma nuvem que nos cubra e nos proteja do mar vermelho de sangue que os assaltantes mototaxistas fazem jorrar em nossas ruas. Cubra-nos, oh! Pai, com o manto sagrado da Virgem Maria!