Raphael Reys
Nesta quarta parte, falaremos, ó Pai, dos seus filhos que insistem em ficar no rincão natal. Muita é a solidão que turva os nossos sentimentos e parte o nosso coração campesino.
Os nossos finais de semana e feriados são tão maçantes que aqueles que partem para o andar de cima nesses dias, não serão carpidos e só serão lembrados posteriormente ao fato.
Muitos matam as nossas tradições, o nosso lundu, o nosso artesanato. Os nossos caudais, onde mergulhamos o corpo da nossa infância, para curar ressaca de Cinzano Rossi e de Martini Dry. Um fogo doce! Com a boca cheirando a cigarro Mistura Fina!
Não temos mais polveiras para caçar marrecos na lagoa de dona Alice; Tabuas, onde escondermos da zanga do Caubói de Janaúba. Há tempos não comemos pirão de piranha bandeja para aplacar a ira da cachaça curraleira fabricada pelo saudoso Mundinho de Altamira na Brasilinha, e que era fermentada no rústico tronco, juntamente com gambá, besouro, mosquito e outros insetos dípteros, terrestres e voadores não identificados.
Perdemos os bancos de seu Calixto, de Seu Cursino, agora somos só números no computador. Nas farmácias, não encontramos Seu Evaldo e os seus coquetéis de comprimidos.
Não temos mais as românticas grotas e sim crateras monumentais, algumas já julgadas hors concours no Mundial de Buraco Urbano!
As nossas agências bancárias estão cercadas de assaltantes mototaxistas e ciclistas dando farol alto nos pacurus dos nossos inocentes e desprotegidos filhos.
Nossos filhos já viajam para o exterior sem passaporte e passagem. Pipam e vagam nas metafóricas estradas para Katmandu, para Marrakesh, alguns vão mesmo para Pasárgada! São viajantes metafísicos que transitam na solidão das suas ilusões de cor, forma e movimento, e em barcos no Rio Laquesis. Uma estrada intercontinental exógena!
Todos, filhos do mesmo Pai, a cumprir a Vontade Suprema. Estão aqui em missão! Resta-nos compreendê-los. Todos somos irmãos!
Nossas adolescentes femininas batalham para ganhar quinze reais. Comprarão cartões de telefonia celular móvel. Vendem seus corpos a homens vazios e passam torpedos para homens também de corações vazios. A vivência do subterrâneo da sociedade é um eterno ciclo vicioso. Aí, Pai, só enfrenta quem agüenta!