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Segunda-Feira,9 de Junho

Da traição

Jornal O Norte
Publicado em 29/01/2010 às 07:59.Atualizado em 15/11/2021 às 06:18.

Marcelo Valmor


Professor



A idéia de traição atravessa toda a história da humanidade. Inicialmente a assistimos como elemento fundador do mundo. O mito de Adão e Eva, portanto, aponta para esse princípio. A traição perante Deus empurra ambos para vagarem e povoarem o mundo.



Mais adiante temos a história da Medeia na Grécia Antiga. Traída, e posteriormente rejeitada pelo marido, Medeia elabora sua vingança. Inicialmente planeja matar o ex marido. Mas ponderadamente argumentou consigo mesma que talvez ele passasse dessa para uma melhor. Posteriormente pensou em matar a mulher com quem o marido tivera um caso. Mas o que adiantaria? O safado encontraria outra. Por fim acabou por matar os filhos que havia tido com ele, numa punição eterna, pois mesmo que o ex marido tivesse outros filhos, eles jamais seriam iguais aos que se foram.



Tanto na Idade Média quanto no mundo moderno o tema traição é recorrente. Funda culturas porque, na maioria das vezes, trabalha com a possibilidade pedagógica, ou seja, anuncia aquilo que não deve ser feito.



Mas, quando saímos do campo estritamente histórico e caímos no campo pessoal, eis que a traição soa como algo que, ao contrário de fundar culturas, acaba por eliminar uma das partes, quando não há o extermínio de ambos.



O grande problema da traição é que ela ocorre somente quando a relação se encontra na melhor da sua fase. Ou seja, quando se está no auge do namoro, do casamento ou do noivado é que costuma ocorrer o acontecido. Afinal, se a relação está ladeira abaixo, como falar em traição? Só existe traição quando existe relação, e ponto final.



Mas por que então assistimos cada vez mais a crimes covardes contra mulheres? Os motivos alegados são sempre a traição, mas na verdade a relação não existe mais, como foi o caso do assassinato da cabeleireira e que estarreceu todo o país.



Mas então qual a motivação do seu ex marido para o crime? Em primeiro lugar a idéia de posse. Em segundo lugar essa posse pressupõe a manutenção de uma relação que não existe mais a não ser por parte dele. E, por último, a exposição pública que o “humilhava”.



A traição, portanto, pode estar tanto dentro de uma relação estável, quanto dentro de uma relação que não existe mais. No caso da primeira, coloca em xeque a parte traída, pois ela não consegue racionalizar o processo. No segundo, e que se encontra o ex marido da cabeleireira, o que ele não conseguiu, a partir da separação por parte dela, foi de racionalizar não uma possível traição, mas a idéia de que as pessoas são nossas a partir do momento que decidimos por isso.



A linha que separa, portanto, a pessoa traída do psicopata é muito tênue, haja vista que ambos caminham na mais absurda irracionalidade diante desse tipo de situação.

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