Petrônio Braz
Dentro da visão multilateral do mundo moderno, quando se combate por todos os meios as restrições sociais e econômicas de natureza racial, quando as diversas etnias que compõem as populações humanas, espalhadas pelas diversas partes do mundo, procuram encontrar o seu espaço igualitário, a visita do candidato democrata às eleições presidenciais dos Estados Unidas, Barack Obama, à Europa está merecendo a atenção de todos.
Enquanto aqui, pelas bandas do Brasil, os candidatos são impedidos de promoverem showmícios, numa restrição inexplicável à liberdade de manifestação, em Berlim, na culta Alemanha, Barack Obama fez o que está sendo considerado o maior comício de sua campanha à Casa Branca. Para muitos é de se perguntar qual a razão de um comício, de cunho eleitoral, promovido por um candidato longe da área territorial de seu próprio país, enquanto por aqui um candidato a prefeito de uma cidade não pode fazer propaganda eleitoral no município vizinho, mesmo que nele existam eleitores de fronteira.
O sucesso da viagem ao exterior de Barack Obama, o primeiro negro a ter efetivas condições de eleger-se presidente dos Estados Unidos, tem significado muito mais amplo do que se possa imaginar. Sendo o seu país a maior potência mundial da atualidade, com interesses definidos em quase todas as partes do mundo, de natureza econômica ou militar, o sucesso no exterior refletirá positivamente entre o eleitorado americano.
Duzentos mil alemães assistiram ao showmício dele em Berlim, na última semana. Em sua viagem de campanha, realizada no exterior, ele está promovendo o renascimento do sentimento pró-americano, que vigorou nos tempos da Segunda Grande Guerra e que se encontra desgastado em todo o mundo.
O mundo globalizado espera uma mudança para melhor. Temos, no entanto, que estar atentos para a realidade americana atual. Os interesses dos Estados Unidos no mundo são maiores que os individuais de um candidato. Assim como no Brasil, onde o presidente Lula, depois de eleito, teve que se curvar diante da força globalizada do capitalismo, o candidato Barack Obama poderá decepcionar os europeus e o mundo, depois de eleito.
Ele - Barack Obama – representa ou pode ser o símbolo da busca da humanidade pela eliminação das diferenças raciais, do reconhecimento da multilateralidade racial, mas isto não o eleva à condição de cidadão do mundo. Ele é americano, como todos os outros que governaram seu país. Pode não ser um Bush, nem vir a ser um Kennedy, mas é um americano.
Sem a modéstia de um Lincoln, como lembra o historiador Tony Judt (autor do livro “Pós-Guerra”) os seus discursos, os discursos de Obama, têm sido marcados pelo individualismo, por um marcante egoísmo, postando-se como salvador da pátria.
O leitor poderá perguntar, com alguma razão: “O que temos nós a ver com as eleições presidenciais americanas?” Temos tudo a ver. Os Estados Unidos ainda são a maior potência mundial e a economia globalizada passa, necessariamente, pela economia americana. O que acontece lá, positiva ou negativamente, reflete em todo o mundo, inclusive no Brasil.
Assim, entre o candidato democrata e o republicano (via Bush) temos que torcer pelo democrata, mesmo sabendo que a eleição de Barack Obama não irá derrubar as barreiras do racismo.