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Quarta-Feira,5 de Fevereiro

Cuidado! Não estou brincando - por Adilson Cardoso

Jornal O Norte
Publicado em 29/08/2007 às 18:10.Atualizado em 15/11/2021 às 08:14.

Adilson Cardoso *



Já era quase meia noite quando cheguei á praça Doutor Carlos, o frio estava além do normal, o vento uivando, rodopiava os papéis deixados no chão pelos vandalus, O clima era de filme de terror Americano. As luzes pálidas, e a escuridão nas janelas dos edificios ao redor  furtaram-me as forças, meus batimentos cardiacos triplicaram suas atividades acusando o medo que já estava em min. Busquei o Celular na bolsa, estava descarregado, trêmulo e desnorteado fui em passos bambos até o Orelhão que estava mudo, dei a volta no quarteirão e nem um funcionava. A guarita da Polícia Militar, estava lacrada. De repente um barulho de Motocicleta me deu uma fugaz esperança, olhei e vi subindo a rua Carlos Gomes, pensei que pudesse ser um moto-taxista, naquela hora a corrida poderia ser cara, mas estava disposto a negociar. Porém o panico tomou conta do piloto ao notar a minha presença de braço estendido a pedir parada! tanto foi que antes de chegar perto de min o moço fez um reverso  no meio da rua que subiu no passeio raspando a parede de uma loja de tecidos na esquina da praça, descendo em contra mão a “Carlos Gomes” com mais de 80 km/h. Olhei em minha volta mais uma vez e subindo a vista, o céu negro parecia esculpir formas assombrosas na sua imensidão, voltei ao banco solitário da praça. Agora esquecido das minhas convicções existencialistas, comecei a rezar, meu colar de frutos do cerrado se trasnformou em um “terço” e recobrei a memória para lembrar das orações que minha Mãe me ensinou quando criança.Rezava baixo apertando o colar de adorno que aquela hora era bento, e pedia até as almas “benditas”, não passava ninguem,  as luzes dos potes iam se apagando,e meu horror aumentava, levantei as vistas rumo a Rua  Coronel Antonio dos Anjos e notei que a escuridão tomava conta de toda a área que envolvia o Conservatório. A parte de baixo da Carlos Gomes também já estava escuro, e lentamente todas as outras luzes, até eu ficar na praça em total escuridão, uma  fina garoa começou a cair e os ventos sopravam mais fortes, para min


tudo estava pedido. Em pleno centro de Montes Claros parecia-me a própria morada do “Lucifer”, sem contatos , imobilizado pelo frio e pelo medo. As  orações continuavam, fervorosas e aflitas, tanto que até o hino do Cruzeiro Esporte Clube, eu já estava cantando em ritmo de reza. Ouvi um relinchar estrondoso e procurei avido a localização, pois a aquelas alturas até a cavalo eu iria, ledo engano, descendo a Doutor Santos em desvairia, uma mula preta de mais ou menos três metros de altura vindo na direção que eu estava com uma velocidade tão grande que parecia a mula da “Ferrari”, larguei meu terço com bolsa e tudo que estava na mão, e entrei em baixo do banco, a mula deu golpe de capoeira! girando no ar com a pata direita na cobertura de cimento do ponto de Onibus tão forte, que esta  foi parar lá embaixo esmagando a banca de revistas do ponto de taxi. É indizível, por tudo que há de sagrado na face da terra, não estou mentindo, a mula não tinha cabeça, e no buraco do pescoço saía  fogo! Não tive outra escolha, se não gritar! gritar e gritar! com toda a força da minha voz embargada pelo medo, e o incomodo de sentir fezes e urina me escorrendo pelas pernas. Mas ninguem me ouvia naquela escuridão alucinante e  frio congelador. Pensei em   correr até a “Nave” da PM, quebrar as portas e ser preso para assim alguem me achar, mas o medo me paralisou e nem gritar, eu conseguia mais. Um rosnado de furia se ouviu a poucos metros a minha frente, sem ação   , eu tremia feito minhoca em terra quente, batia a cabeça no assento do banco e orava, já que não tinha mais voz, em meio as ações involuntárias meus olhos se abriram para enxergar a mais assombrosa das criaturas que eu já tinha visto em toda a minha vida, metade homem , metade lobo, sendo puxado por um negrinho de estatura mediana, de corpo forte com uma perna só, usando uma tôca vermelha e fumando um cachimbo com um fumo tão asqueiroso que após sumirem de vista ainda cheirava no local.Ainda sem palavras orei a “Nossa Senhora  dos Desterros” que desterrasse estas assombrações da minha frente e me devolvesse minhas forças e minha voz, mas voltei atrás no ultimo pedido pois a pasta de devolver as coisas e do “São Longuinho”, onde reinteirei o pedido. Deu certo, fiquei tão contente que comecei a pular para pagar a promessa ao “Santo”e por instantes o medo sumiu, com voz e força, tinha motivos para encarar a escuridão, e peguei a “Rui Barbosa” para ir embora rumo ao “Sumaré”, escura e longa a rua parecia não se encontrar com a “Belo Horizonte”, eram as pernas  breadas difucultando a corrida que por sorte não havia cães a espreita.  Porém uma cacetada na orelha me fez aterrisar no chão, e levantar correndo para não levar outra quando sem querer pisei em algumas latas e entulhos no caminho, era “Galinheiro” que vigiava seu “tesouro”, e eu sem querer pisei em cima, e aí desgraçou tudo! medo agora que se dane! eu queria correr, correr, correr e correr. Tanto que quando o dia amanheceu eu estava chegando junto a um caminhão de “Romeiros” em Bom Jesus da Lapa”, no Estado da Bahia. E viva nosso Folclore! viva as Histórias do povo, viva o dia 22 de Agosto.



* Aprendiz de escritor, acadêmico da Unimontes

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