Crônica de um nome incomum - por Délio Pinheiro

Jornal O Norte
Publicado em 18/04/2007 às 11:10.Atualizado em 15/11/2021 às 08:02.

Délio Pinheiro *



Lendo uma crônica do meu amigo “imortal” Itamaury Telles nas páginas do jornal O Norte de Minas, eu percebi as delícias e as agruras de se ter um nome incomum. Acredito que o meu nome também se localize nesse panteão de originalidade. Assim como também é incomum o nome do editor do citado jornal, Reginauro. Diz aí: Quantos Reginauros e Itamaurys você conhece? Se conhece, provavelmente são os mesmos que eu conheço. E essa é uma das vantagens de se ter um nome singular. Claro que tem também suas desvantagens, e uma delas foi citada por Itamaury: a impossibilidade de se debitar a algum homônimo nossos erros de percursos. E isso se dá pela quase total ausência de homônimos.



Eu conheço, pessoalmente, somente outro Délio aqui em Montes Claros, e ele é frentista de um posto de gasolina nas proximidades da prefeitura. O outro Délio que conheço in loco é um ex-vereador de Porteirinha. E tem um vereador de BH chamado Délio Malheiros e um advogado ilustre, que foi também ministro, e que tinha o esquisito e pomposo nome de Délio Jardim de Matos. E só.



Depois que minha crônica sobre esse assunto saiu nas páginas do jornal do Reginauro, coube ao próprio Itamaury lançar um pouco mais de luz sobre a existência de mais Délios por aí. Eu havia dito que nenhum jogador de futebol e nenhum personagem de telenovela tinham sido batizados com esse nome. Mas o Itamaury citou que o América de Minas contou com um certo Délio nos longínquos anos 1960. Bom, apesar de ser do América, teve um né? No caso das novelas continua sendo uma tremenda injustiça, já que tivemos até mesmo “Downloads”, “Beija-Flores” e agora temos um “Lance” como nomes de personagens brasileiros em nossas bobagens televisivas.



Nos campos virtuais, sobretudo no orkut, a coisa muda de figura. Existem muitos Délios por aí. Inclusive uma comunidade que conta com quase duas centenas de afortunados abriga os nascidos sob essa alcunha, que designa os moradores da ilha grega de Delos.



Eu tenho muito orgulho de meu nome. É uma homenagem ao meu avô que sequer tive o prazer de conhecer e que morreu muito novo, deixando como legado uma família linda e absurdamente unida. O curioso é que, segundo meus pais, o combinado era que o primeiro neto do meu avô seria batizado com seu nome, como forma de homenagem. Coube a meu primo Rogério esse papel, mas, sabe-se lá porque, minha tia Glória optou por não batizá-lo assim. E o segundo, eu, finalmente herdei o nome que, repito, me orgulha muito.



Apesar desse orgulho, eu sei que se trata, talvez, do nome mais fácil de confundir no Brasil. Meu nome é Délio. “Alguém aí disse Hélio, ou Célio, ou Nélio?”. A verdade é que quase todos os dias eu preciso dizer: “É Délio, com d de dado”. O espantoso é que já chegaram a confundir com Pélio. Você por acaso conhece algum Pélio, ou Zélio por aí?



Alguns dias atrás eu pedi um churrasco no delivery de um restaurante e quando chegou a entrega e vi lá na notinha o meu nome corrompido, “Bélio”, eu imaginei que esse até que tinha algum significado, pois fiquei mesmo com vontade de pegar um arsenal bélico e dar cabo de quem escreveu essa atrocidade.



Eu tinha uns colegas de faculdade de jornalismo que, de brincadeira, me chamavam de Grélio. Mas assim, excetuando as brincadeiras, ninguém nunca confundiu. Essa obra-prima da criatividade humana eu fico devendo para meu amigão Ricardo Maciel, diamantinense que atualmente empresta seu talento à assessoria de imprensa da cidade de Turmalina, no Vale do Jequitinhonha. Empresta, ouviu bem? Pois quando a prefeitura de Belo Horizonte ou outra assessoria de maior porte descobrir o talento de meu amigo, ele será projetado para alguma ocupação à altura de seu talento. Depois de um encômio desse porte eu posso até pedir algum emprestado para meu irmão de Diamantina, não é mesmo?



Quando eu comecei no rádio e poucos me conheciam em Montes Claros, foi uma verdadeira prova de paciência. Quando os ouvintes ligavam pra rádio 98 e perguntavam quem estava falando e eu respondia que era o Délio, o ouvinte, invariavelmente, sempre confundia: “Célio, Nélio?”. “Não, Délio, com d de doido”. Lembro-me de ter ficado tão chateado com esse negócio que, já no final do programa, quando o telefone tocou pela centésima vez e a ouvinte perguntou quem estava falando, eu disse: “É o Hélio”. Do outro lado da linha a ouvinte disse: “Délio?”.



* Jornalista e escritor

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