Logotipo O Norte
Segunda-Feira,22 de Dezembro

Criminosos ao mar

Por Manoel Hygino

Jornal O Norte
Publicado em 04/12/2013 às 08:40.Atualizado em 15/11/2021 às 17:16.

Por Manoel Hygino

Quem lê os jornais mais cuidadosamente se espanta com o universo de corrupção que eles estampam. As folhas são espelho de uma sociedade enferma e que não se importa em zelar pela saúde ou recuperá-la. Se tantos se enriqueceram no exercício do poder ou nas suas proximidades, por que os demais não podem apelar para idênticas formas de “ganhar dinheiro”?

É uma pergunta dolorosa de se formular, mas reflete o sentimento de ponderável parcela do povo brasileiro. Ele paga caro pelas falcatruas cometidas ininterruptamente pelos devassos, mas mantém em alto nível a arrecadação de tributos. E assiste em derredor de si a decadência moral nos costumes e na má utilização da máquina administrativa e do dinheiro público.

Lamentavelmente, tem-se perdido a noção de distinguir o que é honesto e o que é desonesto. Quem arranca algum recurso financeiro mesmo por vias ilícitas, sem pagar no cárcere pela tramóia, realiza-se. Interessam-lhe os fins, os meios pouco importam. Já se julga recompensado e aparentemente feliz; também tirou algum proveito da situação, e isso o contenta. Recebe as pequenas coisas e as migalhas do crime semioficializado.

Os falcatrueiros não querem saber das leis, porque quase sempre podem burlá-las. Afinal, há excelentes advogados no Brasil que conseguem salvá-los quando pegos. A legislação brasileira é riquíssima, abrindo vias nunca antes identificadas para evitar que o deliquente poderoso vá parar detrás das grades.

Embora a palavra corrupção pareça feia em sentido, é praticada incessantemente nos hábitos. A riqueza de inúmeros homens do país não é figura de imaginação ou fruto de proteção divina. Resulta de ilicitudes, que frequentemente sequer aparecem nos jornais. Enquanto isso, os protestos esparsos pipocam aqui e ali, todo santo dia, com homens e mulheres exigindo isto ou aquilo, a que se julgam com direito, mas não são atendidos. E são pequenas coisas indispensáveis.

A propósito, no dia 13, Francisco, o de Buenos Aires, fez um dos mais duros sermões contra os corruptos, lembrando passagem das Bíblia. Ouviu-se o pontífice na Casa de Santa Marta, onde foi morar depois de abdicar do luxuoso Palácio Apostólico. Francisco criticou os cristãos que levam uma vida dupla, dando dinheiro à Igreja, enquanto roubam do Estado. Estes pecadores merecem punição. Evocou o Evangelho de São Lucas: “Jesus diz: Seria melhor para eles se colocassem uma pedra no pescoço e se atirassem ao mar”. Acrescentou que os envolvidos em corrupção são como tumbas, “bonitos por fora, mas por dentro cheios de ossos de mortos e de putrefação”.

Compartilhar
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por