Por Patricia Gomes

Ele é um menino esperto, bom de bola. Fez do uniforme do Clube Atlético Mineiro o próprio uniforme. Vive assim: calça preta e branca, blusa listrada. Aplica no vídeogame as técnicas que ele diz dominar no gramado. No computador, gosta de desafiar todos os times. Mas, sempre carrega nas manetes o poder da equipe do coração. Por falar em coração, o dele já nasceu com um probleminha sério. É uma cardiopatia congênita que acompanha o garoto nessa caminhada de sete anos da vida que a doença insiste em dificultar.

Ele não pode fazer exercício, nem brincar demais, não pode se cansar. Coisa chata pra uma criança dessa idade. “Já que eu não posso fazer nada, melhor me jogar no caixão de uma vez.”, chegou a desabafar com a médica. Mas, a falta de esperança não é uma opção nessa história.

Depois de sofrer, mais uma vez, de insuficiência cardíaca, o atleticano foi submetido a uma cirurgia, mais uma vez! E mais uma vez se saiu bem nessa disputa pela vida.

O coração frágil no corpo franzino faz reserva de energia pra os dias de jogo do Galo. Ele se esbalda! Grita, pula, xinga, chora! Para ele, a vida tem mais cor quando é preta e branca. E a camisa listrada é mais bonita quando vestida por um certo craque que carrega nas costas o número 10.

Hoje foi dia de emoção. Para o menino, um dia inesquecível, tão maravilhoso que lhe tirou as palavras! Na inocência reservada aos pequeninos, ele diz que é “o maior funk do Ronaldinho Gaúcho”, que sonha em conhecer o jogador. Nada mais justo, o guerreiro de coração sofrido conhecer o guerreiro das quatro linhas.

Ídolo e “funk”, um de frente para o outro. O menino fica tímido, calado, olhos vidrados! É meio incrível ver de perto quem a gente está acostumado a ver só na televisão, não é mesmo? Aquele que já foi o melhor do mundo abre um sorrisão, como não poderia deixar de ser, oferece uma camisa novinha com um autógrafo no peito, dá um abraço, fala algumas palavras dignas de um grande atleta, dá outro abraço, mais um sorriso e segue para o treino.

Não sei se o Ronaldinho percebeu... Em dez minutos ele conseguiu o que os médicos tentam há sete anos, fez o coração daquele menino ficar um pouco mais forte.