Dário Teixeira Cotrim
Numa parceria bem sucedida entre a Soebras – Associação Educativa do Brasil e o Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernandez foi realizado com absoluto sucesso e em um momento especial o Concerto do Sesquicentenário de Montes Claros, com produção e assessoria das jovens Fabíola Dourado e Sandra Soares dos Santos Borborema. O apoio cultural neste caso específico não é de somenos. Pelo contrário, a presença do grupo Soebras tem um significado da mais alta importância para o desenvolvimento da cultura de Montes Claros. O futuro da música clássica montes-clarense é o presente. O eterno presente que divisa o futuro dos sonhos.
Portanto, quem esteve presente no Conservatório neste dia certamente que jamais irá esquecer a magia que envolveu a todos, advinda da interpretação especialíssima do duetto Clarice Maciel (soprano) e Regina Coelho (mezzo-soprano), principalmente nos momentos finais do Concerto. Então, bastaria isso para mostrar que nesta noite de gala, além da beleza e da justeza da música clássica, também fomos brindados com outro momento especial, o do talento irretocável da pianista Talitha Peres. Expende Antônio Hernandez, crítico do jornal O Globo que “o piano impecável de Talitha Peres, vale às vezes mais que uma orquestra refinada”. E ele tem toda razão em afirmar assim, pois a musicalidade dos acordes suaves e definidos do piano de Talitha fazia com que o entrosamento do duetto sobressaísse num ritmo perfeito e contagiante. Por outro lado, a união das sopranos nos revela a gênese de uma música que ultrapassa fronteiras de estilo, convertendo, através da fusão, desde a sonata clássica até a nossa canção-seresteira, exatamente aquela apresentada ao relento das noites enluaradas no coreto da antiga Praça da Matriz. E isso foi possível porque Clarice e Regina já teriam anteriormente os seus nomes atrelados ao Grupo de Seresta João Chaves.
Não obstante a esse encontro, numa outra ocasião elas apresentaram juntas “um belíssimo espetáculo que teve lugar nos palcos das cidades de Belo Horizonte e Montes Claros: o concerto do Stabat Mater, de Pergolesi, abrilhantado pela Orquestra da Câmara SESIMINAS”. Também, quando do lançamento do CD de coletânea de Ave Marias elas voltariam a se apresentar juntas.
Na divindade da música clássica, o Concerto do Sesquicentenário de Montes Claros apresentou um repertório de alta qualidade. Foram selecionadas obras de W. A. Mozart (Cosi Fan Tutte e o Ma lyre immotelle), de G. Puccini (Quando men vo – Musetta), de G. Verdi (Trovatore) A. Catalani (Ebben, ne Andro Lontana – Wally) e também as obras dos brasileiros Villa-Lobos (Bachianas nº5 – Cantilena) L. Fernandez (Tapera – Canção), João Chaves (Amo-te muito – seresta) e Luiz de Paula Ferreira (Montes Claros: centenária – Canção). Bastaria isso para mostrar como a música clássica influencia no refinado gosto dos montes-clarenses. Como a minha praia é a literatura, vou me ater somente no impressionismo das notas musicais, exatamente aquilo que me toca o coração. Entretanto, o motivo é o de sempre: elogiar e aplaudir, afinal Clarice Maciel, Regina Coelho e Talitha Peres são simplesmente as melhores entre as melhores que existem sem escoimar a crítica, principalmente depois que a gente lê as suas biografias. São elas naturais de Montes Claros e todas com experiência internacional. É preciso respeitar todos aqueles que passaram um dia pelo Conservatório Estadual de Música Lourenzo Fernandez.
Para finalizar, devo confessar com a devida vênia que não concordo em hipótese alguma que falte sutileza na nossa música. Amo-te muito, de João Chaves, por exemplo, interpretada na voz ornamentada pela coloratura da soprano Clarice Maciel foi o momento mágico da apresentação. Confesso mais uma vez que me emocionei de montão. A garganta secou, os olhos lacrimejaram e o coração apressou ainda mais no seu batimento. Quando se gosta da boa música não há como arredar o pé dela. Talvez isso motive as consciências musicais!