Como se deve escrever a História

Jornal O Norte
Publicado em 18/08/2011 às 20:06.Atualizado em 15/11/2021 às 06:03.

Petrônio Braz (*)



Tenho me encontrado esporadicamente com alguns colegas remanescentes do Curso de História do CADES, que cursamos em Montes Claros, em meados do século passado e, por via outra, tenho recebido e lido inúmeros livros que contam a história de cidades ou de fatos isolados. Com os ex-colegas as lembranças; dos historiadores regionais algumas dúvidas.



De uma, entre tantas, conversa com o professor Ivo das Chagas, geógrafo e ecólogo, mestre em Geografia pela Universidade de Bordeaux (França), concluímos que a Geografia e a História não têm recebido, nos tempos atuais, ditos contemporâneos, o tratamento cultural que deveriam receber.



Muitos têm escrito sobre a história de suas cidades, sem método, sem respeito à realidade fática, que deve ser mostrada e considerada dentro do contexto de cada época analisada e informada. O historiador deve buscar informações claras, objetivas e corretas, com absoluta neutralidade, certo de que não deve emitir juízos pessoais de valor, opiniões ou julgamentos, mas tão somente retratar os fatos de forma neutra, sem comentários ou apreciação crítica.



Observa André Leme Lopes que “o silêncio dos filósofos antigos sobre a historiografia é quase completo. Mesmo Aristóteles, tão prolífico a respeito de todos os campos do conhecimento, a ignora em toda a sua extensa obra”



Poucos são os livros que se dedicam a ensinar a ciência historiográfica. Em minhas mãos o livro “Como se deve escrever a história”, de Luciano de Samósata (Belo Horizonte, Tessitura, 2009), escrito no século II d.C., disponível agora aos cultores da língua de Camões. Luciano Samósata defende que a “história justa” deve ser escrita com a verdade e não com adulação, para que se torne um patrimônio duradouro. Escrevendo no apogeu do Império Romano, Luciano de Samósata observa que para os historiadores da época havia um complicador: o poder universal do Império Romano, o imperium, o poder militar invencível de Roma.



Cumpre-nos também lembrar que durante toda a Idade Média havia outro complicador: a Igreja Católica, a Inquisição.



A República, implantada no Brasil pelos militares, em 15 de novembro de 1889, criou símbolos como Tiradentes e procurou denegrir valores de nossa história monárquica, entre eles o Imperador Pedro I, a quem devemos não só a independência, mas, principalmente, a unidade territorial.



Em relação à verdadeira história do governo monárquico de Dom Pedro I, dois complicadores poderosos se estabeleceram: o Regime Republicano e a Igreja Católica. A Primeira República (1889 a 1930), para se afirmar no conceito popular, criou a “História” de nossa Monarquia, que até hoje está sendo ensinada e o regime ditatorial de Getúlio Vargas (1930 a 1945) nada mudou. Os períodos verdadeiramente democráticos de nossa vida republicana, 1946 a 1963 e 1988 aos dias atuais, foram relativamente curtos para resgatar a verdadeira História.



Sem pretendermos ser diferentes, mas fundamentados nos princípios positivistas, ainda em vigor, e sem desprezarmos de todo a historiografia metódica, o professor Ivo das Chagas e eu estamos empenhados em rebuscar a verdade histórica do nosso Primeiro Império, convencidos de que documentos valiosos não foram destruídos pelo vandalismo republicano.



Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon, ou simplesmente Dom Pedro I, primeiro Imperador do Brasil ou Dom Pedro IV, Rei de Portugal, está a merecer, perante a História, uma reavaliação de sua atuação como estadista e homem de governo. Entre ser Rei de Portugal, que era uma grande potência naval e um grande Império, herdeiro presumido de outros impérios europeus, contrariando as determinações das Cortes Portuguesas preferiu ficar no Brasil, com decisão de 9 de janeiro de 1822 (Dia do Fico). Finalmente, em 7 de setembro de 1822 declarou a independência do Brasil, rompendo os últimos vínculos entre Brasil e Portugal. Merece o nosso respeito.


 


(*) advogado e escritor


 

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