Por Manoel Hygino
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Em 15 de junho, comemora-se o 120º aniversário do município de Arceburgo, no Sul de Minas, e o 28º de fundação do Instituto Histórico e Cultural, datas que merecem muita festa. Com toda justiça. Aliás, foi também no sexto mês do ano que ali se criou o Boletim do Instituto, no dia 22, em 1985, que recebo regularmente.
Pois no número 39 da publicação, a professora Yvani Dias Vila, aposentada, ora residente em Santo André (SP), lembra curiosos costumes, quando as palavras gravidez, sexo e menstruação não faziam parte do vocabulário. Da mulher grávida se dizia: “Tá barriguda”, “tá esperano”, “tá gorda de fio”, “tá esperano criança”. Perguntava-se: “É menino home ou é menina muié”. Menstruação era “incômodo”. O vocábulo sexo não era pronunciado. Quando o parto já se dera, dizia-se”: “fulana já desocupou”.
Esse tempo foi também de todo o interior brasileiro, assunto de que muito gostava o cronista Moacir Andrade. Gravidez e nascimento eram cercados de tabus e superstições. A mulher não podia comer ovo com duas gemas ou bananas gêmeas pois podiam nascer “gêmeos grudados”, ou seja, os siameses ou conjugados, de que em Belo Horizonte é especialista em separação o doutor Manoel Firmato de Almeida.
Se a mãe guardasse as chaves da casa no seio, o bebê poderia nascer com “beiço rachado”, isto é, lábio leporino. Grávida não devia comer isso ou aquilo, pois o filho poderia vir com as marcas do alimento desejado. Após o parto, a coisa também se complicava. A criança não podia ser visitada antes de sete dias, devido ao “mal dos sete dias” - o tétano umbilical. Receber visita de mulheres menstruadas podia secar o leite materno.
Bebês não ganhavam presentes, estes eram para as mães. Chegavam galinhas gordas e sabão de cinza para lavar as roupas. Depois, o puerpério. A mulher não podia lavar os cabelos durante 40 dias, o resguardo, algumas mães evitavam até o banho, só higienizado as parte íntimas. E mais: não podia pegar peso, varrer a casa e apanhar friagem, para não sofrer recaída no resguardo, talvez letal. As recaídas eram dor de cabeça, desmaios, infecções. Pinga com arruda era remédio milagroso, servindo também para evitar a indesejada infecção. Nos primeiros quatro dias, a dieta era galinha gorda, engrossado o caldo com farinha de milho. Não havia pediatra, obstetra, nutricionista ou psicólogo.