*Manoel Hygino
Putin veio ao Brasil. Julho de 2014. Assistiu ao jogo final da Copa do Mundo de Futebol, recebeu uma bola simbolizando a incumbência de realizar a seguinte competição na Rússia, participou da reunião dos Brics em Fortaleza. Não antes de visitar Cuba, reunir-se com Fidel e com Raúl, o sucessor, e estender a viagem à Argentina. Em Havana, perdoou 95% da dívida da ilha a Moscou. Porque não havia mesmo como quitar o débito.
Por sinal, há 15 anos Wladimir Putin (o pai também era Wladimir) se tornou primeiro-ministro da Rússia, em 9 de agosto de 1999, nomeado por Boris Yeltsin. Uma semana após, vasta maioria da Duma, o Parlamento, o confirmou. Cinco lustros decorridos, já se sabia que Yeltsin se tornara um acontecimento remoto. Não podia ter terceiro mandato, era impopular, o povo estava desapontado, como conta Mascha Gessen. O passo seguinte foi a eleição do primeiro-ministro a presidente.
Putin tem pequena estatura, mas não é baixinho. No encontro em Havana, vê-se que tem praticamente a altura de Raúl Castro, menor do que Fidel, já curvado pelos 87 anos, atleta na juventude.
Estudante, Putin no secundário foi aprovado como “excelente” em história, alemão e ginástica; “bom” em geografia, russo e literatura; “satisfatório”, em física, química e geometria. Chegou à KGB. Na universidade, não teve convivência maior com os demais estudantes, como acontecera, aliás, no secundário. Entretanto, conseguia notas altas e treinava judô.
Namorou três anos, casou-se e, segundo a esposa, Ludmila, era um homem que não chamava a atenção, vestia-se mal, não confessou amor, mesmo no dia d
o pedido de casamento, revelando grande dificuldade de diálogo. Ingressou na escola de espionagem. O instrutor de Domínio de Inteligência, um especialista em comunicação, considerou-o fechado, não muito sociável.
Destacado para a Alemanha, a Oriental (embora não a sua preferência), para lá foi com a filha Maria, de 1 ano, e com Ludmila grávida pela segunda vez. Passava por um momento decisivo na carreira. Investiu na cerveja, engordou dez quilos e, então, nasceu Ekaterina, a segunda.
Foi a época em que começou a ser destruído o mito Stalin, divulgando-se seus crimes e condenando os excessos da polícia secreta. As pessoas começavam a sair às ruas protestando, o que antes pareceria impensável. A escritora observa: “Tudo aquilo pelo qual ele (Putin) havia trabalhado era agora duvidoso; tudo aquilo em que havia acreditado estava sendo ridicularizado”.
Putin se sentia traído pelo país e pela KGB, única filiação importante na vida, além do clube de judô. Já se falava em política seriamente, não se conseguia mais respirar em meio às costumeiras mentiras, à hipocrisia e à estupidez, segundo Helena Zelinskaya. A economia beirava o colapso, faltavam alimentos e produtos básicos.
Wladimir Vladimirovich Putin aí está: cenho fechado, sem sorriso, mas de presença marcante por onde passa. Confirma-se a inclinação para o exercício do poder.