*Cláudia Gabriel
Sou comedida nas alegrias coletivas. Adoro o brilho luxuoso do Carnaval... Meu coração dispara quando ouço a bateria de uma escola ou de um bloco... E acho que todo casal deveria ter a harmonia delicada e a cumplicidade perfeita das evoluções de mestre-sala e porta-bandeira...
Mas nada disso quer dizer que eu vá usar aquela máscara sorridente e sair por aí, sambando. Até porque nem sei sambar. Nada contra, absolutamente, nada! E não é que eu fique triste ou mal-humorada. Só não gosto da obrigação de vestir uma fantasia porque a festa foi estabelecida no calendário.
Sou fascinada pelo samba! Sei letras e mais letras de cor e, pra mim, algumas são poesia pura. Como meu pai é músico, aprendi a gostar de toda essa “alegoria” ainda criança. Mas gosto em qualquer dia ou noite do ano. Não apenas nos quatro dias determinados pra isso. Há pouco tempo, fiquei num bar, até 4 da manhã, saboreando esse ritmo tão delicioso e autêntico. Lavei a alma!
Prefiro essa alegria distribuída, diluída, e não a concentrada e forçada pela agenda. Nesse Carnaval, aproveitarei pra ler, ver filmes de suspense ou de comédia, encontrar algumas pessoas muito queridas, tomar sol, caminhar e ouvir música, de todo tipo, inclusive, samba. Preciso de descanso e não de movimento. Quando ver as fotos de amigos fantasiados, aqui pela Internet, vou me divertir, mas com aquela sensação de que “é festa num outro apartamento”. Que eu fui convidada, mas preferi não ir...
Foi uma escolha. Embora duvide bastante, no ano que vem, posso estar animadíssima, pulando por aí. Mas alegria escancarada, eu sinto mesmo é quando ganho um abraço apertado e quente de alguém especial ou quando escuto algo que me faz bem ou me provoca uma gargalhada gostosa. Pode ser uma frase, uma declaração, uma história... A companhia feliz de um amigo ou amor. Pode ser no meio do barulho de um bar ou no silêncio de um encontro.
Pra não dizer que sou uma brasileira esquisita, ainda tenho muita vontade de ir, um dia, ao sambódromo da Marquês de Sapucaí. Basta uma vez. Só mesmo pra sentir aquela energia toda. “É o povo que produz o show e assina a direção”. Da “fantasia”, eu penso o que eu quero de verdade. A beleza? A coragem? A irreverência? A sensualidade?
Em plena quarta de cinzas, eu, que já lamentei bastante este dia porque tinha cara de fim de festa, hoje vejo que é só mais um começo. E que não preciso de concessões pra levar comigo esse clima - a brincadeira, a liberdade, o sonho, a criatividade - até o próximo Carnaval!