*Manoel Hygino
Neste ano, muito ainda se falará sobre Getúlio Vargas, pelo sexagésimo aniversário de seu suicídio no velho Palácio do Catete, na capital da República, o Rio de Janeiro. Muito já se disse e escreveu sobre o presidente, sobre o cidadão, o ser humano que foi, sua ação política, o único que, no exercício do cargo, matou-se no Brasil para entrar na história. E entrou.
O jornalista Edmar Morel acompanhou os dias tumultuosos do final da ditadura, o “curto período” de 15 anos. Escreveu que, do alto de seu império, Assis Chateaubriand vivia uma relação de amor e ódio com o governo de exceção. Num dia, brigava com Vargas, no outro, fazia as pazes. Quando Getúlio foi deposto, em 29 de outubro de 1945, estavam rompidos.
A evolução para o fim da ditadura era percebida pelo povo, mesmo naquela época de precárias comunicações, em que não havia televisão e em que os jornais por assinatura demoravam até dias para chegar ao leitor interiorano. O rádio, censurado, só noticiava o que era de interesse das autoridades.
Enquanto Vargas permitiu que o Congresso Nacional funcionasse, o Palácio Tiradentes servia de sede à Câmara dos Deputados. Depois, quando houve o silêncio parlamentar, instalou-se ali o célebre DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda –, de lembrança sempre sombria. Durante as reuniões dos deputados, reservaram-se as primeiras filas para os empregados do Departamento. Tinham ordens de bater palmas toda vez que o nome do presidente fosse citado.
Getúlio concedeu uma anistia aos presos políticos, no dia 18 de abril, ao aproximar-se o fim da segunda grande guerra, em 8 de maio. Os presídios de Ilha Grande e Fernando Noronha, que tantas pessoas acolheram, inclusive algumas importantes, foram esvaziados. Mas nem todos foram liberados, porque ainda permaneceram na cadeia os que tinham praticado “crimes contra a segurança nacional”.
Como conto em meu livro sobre Getúlio, o desfile do volta de teatro de guerra do primeiro escalão de soldados brasileiros que integravam a Força Expedicionária Brasileira, foi uma consagração na avenida Rio Branco. Nossos heróis foram aplaudidos, mas na cauda, apareceu o ditador, em carro aberto, recebendo candentes vaias da população. A seu lado, Gregório Fortunato, de punhal na cintura e empunhando um revólver, tentava amedrontar os populares que apupavam.
Chegava ao término, também, o espetáculo patriótico de 7 de Setembro, Dia da Independência, nos moldes da ditadura. Antes do garboso desfile militar, entravam em cena, todos os anos, funcionários públicos, estudantes e operários, que seriam punidos se não atendessem ao amável convite de suas chefias, mestres e comandos.
Senhoritas de sapatos altos, marchavam com chapéus à cabeça, e os marítimos, sob liderança de um almirante, receberam no inolvidável 1945, estrondosa vaia ao passar pela sede do JB, na Rio Branco. A Polícia, para marcar presença, apelava para o cassetete.
