Com as ruas tumultuadas

Por Manoel Hygino

Jornal O Norte
Publicado em 22/08/2014 às 02:25.Atualizado em 15/11/2021 às 16:35.

*Manoel Hygino

Antigamente, quando uma pessoa, uma família, desejava ter um terreno para plantar, inclusive ou principalmente uma casinha para morar, ou comprar um apartamento, cuidava de juntar economias, mesmo improváveis, para alcançar seu propósito. Era antigamente. As coisas mudaram muito, a começar porque os governos assumiram uma atitude de paternalismo, que produziu o ambiente que hoje temos.

O trabalhador urbano, da indústria e do comércio, que mora longe e ganha pouco, cujos filhos têm de ir à escola, pena nas grandes cidades, porque grupos compactos decidiram conquistar espaço no peito e na marra, como também antigamente se afirmava. Aliás, acontece assim no Brasil com muitos segmentos sociais, querendo acesso a determinados bens pelo jeitinho, e pela pressão sobre as autoridades, que perdem em autoridade pela sucessão de seus atos de improbidade. É horrível isso, num país que se supunha ordeiro e em vias efetivas de desenvolvimento.

Evidentemente incentivados por pessoas que adotaram um código de vencer pela violência, esses grupos (já não mais ingênuos como no tempo de Antônio Conselheiro) resolveram atuar por métodos incorretos, porque não tangidos pelo anseio de harmonia da sociedade. O erro vem de longe, quando as pessoas pensavam que o bem-estar e a felicidade só existiam em grandes cidades. Certamente também aqui os governos se equivocaram, contribuindo fortemente para o êxodo rural, quando a gente operosa e humilde do interior admitiu que os palácios não se sensibilizavam com suas reivindicações e necessidades.

Para atender à demanda de moradia, quando as margens dos rios que cortam as metrópoles e seus morros já se revelavam apinhados, o poder público decidiu construir conjuntos habitacionais junto às cidades de maior concentração. A imprensa, cumprindo seu dever, divulgou esses planos e realizações, mais estimulando os fluxos humanos aos centros urbanos.

Os agentes da mobilização sentiram-se incentivados, até porque, para ganhar votos mais do que para solucionar problemas, os palacianos precisavam aproveitar a nova conjuntura. Além das marchas às principais repartições para transmitir pleitos e formular ameaças, esses grupos decidiram invadir terrenos com proprietários definidos e reconhecidos legalmente e, ali, montando uma estrutura de mínimas condições de vida que se exige do poder público.

Passaram, a partir desse momento, a forçar a administração pública com invasões às ruas e, sobretudo, as de maior circulação de pessoas e nas horas mais concorridas. Sabem perfeitamente que causam males à população ordeira e trabalhadora, que precisa de um mínimo de horas de descanso para recuperar-se e, no dia seguinte, voltar à lida. Pouco importa. Interessa aos organizadores desses tumultos desorganizar o cotidiano das metrópoles e provocar-lhes maior dano, chamando a atenção.

Por detrás de tudo, sabe-se que há motivações escusas, políticas ou ideológicas. Os líderes nasceram em famílias bem aquinhoadas, têm geralmente cursos superiores e se fazem de salvadores da pátria. Mas esses Guilhermes Boulas, como o recebido pela presidente Dilma, não são divinos mestres ou São Franciscos. Há razões perniciosas em seus gestos, atitudes e atos.

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