Dário Cotrim

Zé Lu: o forrozeiro

Publicado em 14/07/2023 às 19:00.

Quando recebi o jornal de Notícias desta quarta-feira, pela manhã, uma publicação deixou-me sem chão, dizia assim: “Norte de Minas perde o sanfoneiro Zé Lu”. Havia uma tristeza que sorrateiramente invadia-me o coração e a alma. Era que Zé Lu, no tempo em que trabalhávamos como diretor da Biblioteca Pública do Centro Cultural, na companhia do saudoso Ildeu Braúna, o amigo José Luiz Pereira da Silva alegrava todos os eventos culturais daquela época. Em razão disso, ficamos muitos amigos, até porque a magia do seu acordeom lembrava-nos o nosso Zé do Campo (Geraldo Rodrigues Antunes) que era primo em primeiro grau de minha Júlia). Zé Lu Forrozeiro sabia o caminho da música nordestina, sabia produzir o som do baião-original de Luiz Gonzaga nas festas juninas e, em vista disso, não se pode olvidá-lo em tempo algum.

E o tempo passou... Há muito que eu não via o nosso Zé Lu Forrozeiro. Hoje, tristemente, com a sua partida inesperada para a eternidade, ele deixa órfão a música-raiz de nossa terra. Enquanto isso, ao lado de Ildeu Braúna, Zé do Jeep, Zé do Campo e tantos outros que passaram para o lado de cima, ele está em continua festa celestial misturado com os amigos de Luiz Gonzaga. Aqui, continuamos nós todos saudosos e tristes sem o som magistral de sua mágica sanfona em noites enluaradas. Os companheiros Nilo Rocha (Marcionílio Martins Rocha Filho) e o mestre Téo Azevedo (Teófilo Azevedo Filho), dois ícones da música nordestina brasileira e, também, associados do egrégio Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, fazem a justa homenagem ao forrozeiro Zé Lu, tocador de sanfona do distrito de Aparecida do Mundo Novo, na hinterlândia do município de nossa cidade. O nosso associado Nilo Rocha declarou para o jornal de Notícias que “Zé Lu foi um grande artista, um ser humano espetacular e um dos maiores instrumentistas. Foi uma grande referência para mim e para todos os sanfoneiros de Montes Claros e região”.

Lembro-me ainda, que certa vez eu lhe mostrei uma sanfoninha antiga da Hering, de oito baixos, que ele ficou tão entusiasmado que eu fui obrigado a lhe vender. Sempre que nós nos encontrávamos, a sanfoninha era motivo de conversa e gargalhada, haja vista o seu cuidado em conservá-la como apetrecho prazenteiro na sala de sua casa. A relação de amizade, no trabalho ou fora dele, fazia de Zé Lu Forrozeiro uma pessoa simples, educado, sorridente e otimista. Na verdade, ele era sinônimo de alegria, nunca havia tristeza quando aparecia para uma apresentação musical. Era o forró-baião contagiante na vida das pessoas. 

No final de cada apresentação, Zé Lu Forrozeiro sempre despedia do público dizendo: “Esse é o meu jeito de levar alegria até vocês, através do ritmo diferente que a gente faz para vocês. Espero que vocês gostem, um grande abraço a todos que curtem o meu trabalho e muito obrigado pelo carinho”. Abanava o chapéu de couro para o seu público, contumaz, com um sorriso de felicidade nos lábios, prometendo, reiteradamente, retornar numa outra oportunidade. Zé Lu Forrozeiro, obrigado pela sua alegria constante dos tempos pretéritos, pois agora a sua nostálgica sanfona chora, e chora muito numa nota musical de despedida, com o doce carinho sempre dedicado, por você amigo leal, aos montes-clarenses. Adeus! Zé Lu, descanse em paz!

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