O proveitoso livro “Sabenças e Crenças no Norte de Minas”, da confreira Clarice Sarmento, constitui-se num documento valioso e completo sobre as tradições e os costumes de nossa terra e de nossa gente. São alguns anos de estudos e de pacientes pesquisas sobre as coisas da nossa etnografia: que é o estudo e a delineação de um povo e as suas manifestações materiais e espirituais.
A leitura deste livro, em primeira mão, foi para mim um presente maravilhoso. Nenhum prazer maior e nem sequer uma alegria melhor haveria de existir para sobrepor a alegria e o prazer deste momento singular.
Certamente que devemos agradecer à professora Clarice Sarmento pelo muito que lhe devemos e pelo muito que dela ainda esperamos receber com a publicação deste e de outros livros.
Esta é, pois, uma obra de pesquisa que veio para robustecer o gigantismo do trabalho já iniciado, aqui, pelos saudosos historiadores Hermes de Paula e Saul Alves Martins. Visto que foram ambos os conhecedores da demopsicologia norte-mineira.
Entretanto, Clarice Sarmento vai muito mais além do cerne da questão. Ela traz, à luz do conhecimento, os fatos que constituíram e que ainda constituem a formação do povo laborioso do setentrião mineiro, sem prejuízo para as outras regiões circunvizinhas, haja vista as semelhanças das sabenças e das crenças deixadas aqui por uma herança secular.
“Sabenças e Crenças no Norte de Minas” é uma obra que, na verdade, atenderá todas as lacunas deixadas por outros pesquisadores da nossa inconfundível manifestação cultural do populário.
A pesquisa do folclore pode e deve ser esmiuçada em virtude de suas interrogações. As atividades sociais e religiosas estão, aos poucos, no esquecimento popular. Por isso é salutar a lembrança das reminiscências, pois não podemos esquecer que as tradições e os costumes são atos e fatos históricos que devem ser preservados na memória de um povo.
A professora Clarice Sarmento faz exatamente o que deve ser feito: por conseguinte, ela debruçou de todas as formas sobre velhos documentos e livros desusados na procura de uma resposta para as suas várias interrogações. Entende- se que a inquietação do historiador é inerente a todo aquele que tem a sede do saber.
O trabalho de pesquisa que fazem os historiadores, incluindo aqui a nossa confreira Clarice Sarmento, nem sempre tem tido o apreço e o apoio daqueles que mais dele precisam. Foi neste sentido que o professor Ático Vilas-Boas da Mota, quando da realização do seu livro “Rezas, Benzeduras Et Cetera”, disse-nos que “se o mundo fosse povoado somente de gente de boa vontade, a terra inteira seria um paraíso e a gente podia até sonhar com uma enorme ciranda”.
É triste quando percebemos a falta de interesse pelos livros. No momento, essa situação de desprezo com a crônica escrita tende a se modificar, já que notamos um maior comprometimento dos jovens com a leitura, e isso é muito bom!
Este não é o primeiro trabalho de Clarice Sarmento. Constam de sua bibliografia os seguintes livros: “Januária Canta”, “Coroações”, “Folclore no Norte de Minas” e “Literatura Popular no Norte de Minas”.
Clarice Sarmento é aposentada da Unimontes e do Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernândez (Celf).
O folclore montes-clarense precisa de suas pesquisas como condição para lhe assegurar a sua existência. E assim, “Sabenças e Crenças no Norte de Minas” foi escrito e, com certeza, irá cumprir o que se propõe a sua autora.