Dário Cotrim

Reminiscências

05/08/2022 às 22:51.
Atualizado em 05/08/2022 às 22:52

Este é um livro de extremo interesse para a coleção do Consórcio Literário do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. Além de cuidar de uma tradição familiar, reuniu o notável contador de causos José Geraldo Soares de Souza, um repositório de informações sobre a sapiência e o conhecimento de seu povo, em tempos pretéritos. Não é uma obra de ficção, senão uma coletânea de crônicas e contos onde foram registradas as cenas mais significativas do seu tempo de menino. São as imagens do passado que se conservam na memória das pessoas.

Nota-se que seria, hoje, agradável a todos os montes-clarenses e, particularmente, aos mineiros, a oportunidade de conhecer, por um testemunho equânime e verídico, o que se passava na vida dos catrumanos, no tempo em que viveu o autor destas memórias. Pela sua narrativa, bem se vê quão estudiosa e miudamente recorreu o autor na construção de sua belíssima obra literária, em informar os fatos que são relatados aqui e quanto ele amava esta terra, para assim interessar-se pelas suas coisas, tantos anos depois dessa memorável viagem ao passado. Tudo aqui parece uma boa prosa da roça, que vem caindo no côncavo da mão, para a feitura de um cigarro de palha ou algo assim parecido. A magia da escrita de José Geraldo retrata ainda a intimidade por onde pervagou até se fixar definitivamente na sua querida Montes Claros. 

Num depoimento dramático, arrancado do fundo de sua alma e do seu coração, o autor nos sensibiliza emotivamente com essas palavras: “Minha mãe estava grávida de minha irmã caçula, não tinha condições psicológica para enfrentar tamanha tragédia – o velório do meu pai – eu e meus irmãos ficamos perdidos, tudo era um mar de tristeza em nossas vidas, não imaginávamos até que ponto aquele acontecimento mexia com a gente, e o que seria do nosso futuro daquele dia em diante”. O leitor pode verificar aqui que o autor não é tão somente um contador de causos, pois ele sabe envolver as pessoas nas suas narrativas, por certo mais dramática e talvez mais sublime. Não foi à toa que no capítulo “O Mundo é dos Loucos” foi registrada a presença de Ferreirinha, um destrambelhado em nossa cidade. José Geraldo pode ser considerado um excelente oralista, lembrando o saudoso João Valle Maurício e, por que não o ilustre poeta do amor natural dr. Wanderlino Arruda? É importante dizer que a espontaneidade e a despreocupação do narrador fazem de sua obra literária uma autêntica seleção da oralidade dos causos expostos. Curioso é que reunimos o prosador e os seus causos, como que numa alusão implícita, à sua condição de excelente escritor na publicação deste livro.

Portanto, meu caro confrade José Geraldo Soares de Souza, foi para mim e, é-me para sempre, uma honra imensurável, fazer parte de sua obra literária com esta pequena e despretensiosa apresentação. Parabéns e sucesso ad aeternum!

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