Dário Cotrim

Raízes do passado

Publicado em 19/08/2022 às 23:53.

Ciro Barbosa de Oliveira é, o que suponho, o mais subjetivista de todos os nossos poetas da modernidade. E, certamente, pode ser considerado como o percussor da poesia juca-pratismo de nossos românticos. 

Falar do passado ele sabe falar. Viver o passado ele sabe viver. Amar o passado ele sabe amar, pois é um verdadeiro reminiscente do tempo pretérito. O seu livro “Raízes do Passado” tem o título que comprova o que estamos falando, haja vista que na sua apresentação ele afirma aos seus leitores que “os pensamentos contraditórios de quem viveu muitas vidas, e não se apega das recordações de nenhuma delas”. 

Não se engane, o livro de Ciro Barbosa tem o poder de fazer lacrimejar os olhos dos mais incrédulos que sejam os homens. Não se trata aqui de uma leitura que se tortura pela forma, nem de um blasé desnaturado, nem mesmo de uma filosofia cosmogonia em relação a criação do universo. Nada disso. Apenas de um livro simples, bem-apessoado, edificante e acima de tudo platônico. 

Tem, a sua obra, dois extremos da escrita. As crônicas catrumanas e as crônicas citadinas. Na primeira parte, o leitor delira com o mundo do pensamento bucólico e da sensibilidade humana, onde a alma sente-se com todos os seus desalentos, com todas as suas magoas, mas também com todas as suas audácias. 

No outro extremo do cálamo, estão os sonhos e as fantasias, as reflexões e os protestos com as opiniões contraditórias. 

Como num passe de mágica, a prosa muda o endereço para o poema, complementando assim a sua obra poética. São versos soltos, dúcteis, melodiosos e expressivos que nos lembram os belíssimos poemas de Wanderlino Arruda. 

Não há regras e nem escolas poéticas, pois os seus versos, ou trovas, são a encarnação do lirismo mesmo não tendo grandes recursos de formas, nem a audácia do pensamento, mas tem a suavidade na expressão e a clareza de ideias. Nota-se que o seu sentimento de amor é real.

“Aqui como lá, conto estórias do meu viver no campo, daquela pós-adolescência, fase única em que me senti feliz”. Assim, o poeta desabafa, jogando a palavra fora, para dizer que as flores misturando com as borboletas azuis-amarelas, com os pássaros voejando em todas as direções, fazem com que ele se sentisse muito mais feliz e deixasse o tempo passar desafogadamente. São dessas criaturas que bem entendem as coisas campestres e bem entendeu o caríssimo leitor ao lê-las essas preciosidades contidas no livro “Raízes do Passado”.

“Raízes do Passado” é um livro de reminiscências, assim como “Desde o Tempo de Menino”. Disse-me Ciro Barbosa de Oliveira, certa vez, em uma reunião social, que o maior desejo de escrever sempre vem das melhores lembranças do passado. É verdade, pois as lembranças tristes nunca nos causam encanto, senão um terrível desencanto. Toda via, misturado tudo, a poesia irrompe dos versos como uma secreta dádiva do amor. 

Parabéns, Ciro Barbosa, e sucesso sempre! 

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