Dário Cotrim

Qualis pater, talis filius!

Publicado em 21/06/2024 às 20:42.

Algumas semanas antes de sua partida, o historiador Virgílio de Paula me telefonava solicitando-me a continuar com os meus artigos semanais no Jornal de Notícias. Naquela oportunidade ele congratulava comigo pela minha postura de independência e retidão nos fatos ali abordados sobre a política brasileira. Hoje a minha crônica é uma simples homenagem a essa pessoa querida, que partiu muito cedo, mas deixando um grande legado de bons exemplos para as futuras gerações de nossa terra, como, de resto, todo o estado de Minas Gerais. Agora ficam perpetuadas as suas memórias no seio da comunidade em que viveu e que tanto amou. Além de suas memórias ainda ficam-lhe os méritos de verdadeiro historiador. Outrossim, a figura de uma pessoa simples e até mesmo polêmica, com toda a força criadora do pretérito, presente e futuro histórico de nossa querida cidade de Montes Claros.

Agora é preciso que reflitamos, todavia, que a história de Montes Claros está de luto. Não um luto oficial de três dias apenas, mas de uma eternidade. Algum tempo passado se foi o grande Hermes de Paula e agora o seu ilustre filho, outro ‘monstro’ da nossa plêiade de homens intelectuais. Entretanto, os seus trabalhos nunca se ausentarão de nossa memória. Estes ficarão assim como ficaram os escritos da influente obra: Montes Claros, sua história, sua gente e seus costumes. 

Não sendo avisado a tempo fui impedido de me despedir do ilustre confrade e amigo. Mas isso não impede, naturalmente, que me despeço através desta crônica dolente e triste. Conhecedor de nossa história como ninguém, ele sonhava com a restauração dos velhos casarões localizados no centro antigo de nossa cidade. Dentre várias publicações em jornais e revistas, ele nos deixou um excelente trabalho literário intitulado de “Serestórias”.

O historiador Virgilio de Paula foi perfeitamente um montes-clarense prodígio.

Era um apaixonado pela história de Montes Claros. Sempre a serviço desta grande causa que empolgou todos os montes-clarenses durante largo período, com a sua cultura e o seu entusiasmo, bateu-se bravamente pela preservação das nossas tradições e dos costumes de nossa gente.

Entretanto, se outro mérito não tivesse o historiador Virgilio de Paula, bastaria a sua influência junto à tradição da família para dar-lhe relevo na história dos que mais pugnaram pelo desenvolvimento de nossa cidade no cenário nacional. Porque, sem sombra de dúvidas, incumbindo-se de tarefas as mais vibrantes possíveis, sempre saía galhardamente para o engrandecimento do fato histórico. Disse o nosso confrade Haroldo Lívio que “ele cumpriu a missão recebida das mãos paternas, e o fez com dignidade e exemplar dedicação ao serviço público, visando apenas à glória da terra e do povo que muito amou”, e concluiu: “casa de pai é escola de filho”.

Agora a saudade já se faz presente no coração da gente. A sua morte causou uma enorme comoção popular em nosso meio. No momento da triste partida os seresteiros montes-clarenses cantaram com lágrimas vindas do coração a belíssima canção do mestre João Chaves: “Amo-te muito!”. Depois de uma existência assim volvida para o trabalho exaustivo, dando aos estudos históricos de Montes Claros uma inestimável contribuição, Virgilio de Paula morre “discretamente, como era do seu feitio e da tradição de sua gente”, todavia os seus escritos ficam para lhe eternizar na história de Montes Claros.

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