Dário Cotrim

Os Emboabas – parte I

Publicado em 30/06/2023 às 19:00.

A palavra “emboabas” se refere ao movimento nativista no sertão das minas gerais entre os paulistas contra os insurgentes baianos, os portugueses e qualquer outro elemento do território brasileiro. Essa designação foi aplicada pelos próprios paulistas em vista as rivalidades que aconteciam nas minas de ouro, no ano de 1708. A história se fez registrar da seguinte maneira: emboabaz significando todos os que não eram paulistas, conforme carta de Manoel Nunes Viana para o paulista Borba Gato; amboabas nas palavras de Bento do Amaral Coutinho, comunicando o governador do Rio de Janeiro os embates verificados no arraial de Ouro Preto, em 16 de janeiro de 1709 e, finalmente, imboabas, no dia 10 de janeiro de 1709, numa carta escrita por um português, morador da vila do Rio de Janeiro, a um amigo de Lisboa, onde se lê: “o que contarei por novas frescas he que estão os imboabas levantados com os paulistas nas minas”. 

Muitos historiadores e cronistas publicaram livros sobre o episódio dos emboabas. O baiano Rocha Pitta se aventurou na vanguarda pata documentar os fatos ocorridos no sertão das minas gerais. Foi um erro. Apressado, ele cometeu vários enganos na condução do seu trabalho literário que foi duramente criticado pelos seus descendentes. Sabe-se que Rocha Pitta, no sossego do seu sítio nas margens do rio Paraguassu, vizinho da cidade de Cachoeira, na Bahia, escreve os conflitos dos paulistas contra os baianos e portugueses, sem consulta à outra parte interessada. Repito: foi um erro do Tocha Pitta.

Nota-se que, muito antes da publicação do livro de Sebastião da Rocha Pitta, o italiano Giovanni Antônio Andreoni ou João Antônio Andreoni, que adotou o nome André João Antonil, no seu livro Cultura e Opulência do Brasil por suas Drogas e Minas anotou a seguinte passagem: “ali está um fortim com trincheiras e fosso, que fizeram os emboabas no primeiro levantamento”.

Depois de alguns anos, já em 1773, o poeta Cláudio Manoel da Costa apresentou o seu livro Fundamento Histórico onde constava o poema Villa Rica. Referindo-se nele a partida de Artur de Sá, escreveu que, “por este tempo se começavam a sucitar os ódios entre os filhos de São Paulo e os naturais de Portugal, em que denominavam de Buabas”. Nota-se que o nome “emboabas” foi modificado por Cláudio Manuel da Costa para buabas, no entanto esse nome não consta dos dicionários da língua portuguesa.

Na verdade, a palavra emboabas é de formação indígena. Pertence a chamada língua geral dos Tupi. É verdade, também, que em São Vicente falava-se a língua gentio e somente nas escolas era que ensinasse o português. Um eminente professor, o padre Vieira, foi o responsável pela doutrinação dos índios. Por outro lado, o baiano Teodoro Fernandes Sampaio comungava com muitos historiadores o emprego da palavra emboabas em seus tratados científicos.

Emboabas são, tão somente, os inimigos dos paulistas. O Capão da Traição teve o sangue dos brasileiros derramados nas enchentes do Rio das Mortes, enquanto isso, o senhor Manuel Nunes Viana se vangloriava do genocídio que os seus patrícios e baianos produziram no silêncio das minas gerais. A história, aos poucos, vai corrigindo os erros do passado. Eu, como bom baiano que sou, peço perdão aos brasileiros para não relevar os erros do meu conterrâneo Sebastião Rocha Pitta. 

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