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Segunda-Feira,25 de Novembro
Dário Cotrim

O cordel de João Figueiredo

04/12/2021 às 00:04.
Atualizado em 08/12/2021 às 01:12

O Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros realizou, em 26 de junho de 2020, o Espaço da Cultura Popular para homenagear o poeta Cândido Canela. Isso aconteceu em razão da presença dos associados cordelistas que enaltecem a Literatura de Cordel com os seus trabalhos ali expostos. Nesse sentido, cada poeta com a sua personalidade própria no lidar com os versos populares.

Como se sabe, a literatura de cordel ficou popularizada entre nós já no século 18, quando possibilitou aos brasileiros, principalmente os sertanejos, conhecer uma linguagem simples da escrita e da oralidade, para o entendimento dos fatos, em especial as histórias folclóricas através dos repentistas e trovadores nos livretos de fácil aquisição.

Nesse ínterim, o poeta João Figueiredo grafou uma excelente obra literária – “A Arte do Cordelismo Para Iniciantes” –, uma forma brilhante e oportuna de contribuir para o aprimoramento da arte de fazer versos populares. Como se não bastasse, o livro ainda traz no seu bojo algumas temáticas como referência do seu magnífico trabalho.

Vejamos: “Os campos de concentração brasileiros: Primeiro antecedemos, depois imitamos os Nazistas!”; “Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros: uma conquista da sociedade norte-mineira”; “Falsos Amigos, as mentiras tinhosas de personalidades pérfidas”; “Dependência Química: doença incurável que acomete o paciente e fere pessoas do seu convívio”; “Crítica à elite cordelista: o cordel surgiu da luta contra a cultura elitista da aristocracia, mas criou sua própria elite”; “O lendário Mestre Suassuna: comandante de um transatlântico cosmopolita chamado cordão de ouro”; “Lu Pimenta: a primeira Mestra de Capoeira da terra das alterosas”; “Mestre Eurico Violeiro: referência cultural na comunidade de Espigão de Cima e toda região”; “Oliveira Lêga: um político progressista que foi penalizado por ser honesto e querer combater as injustiças sociais” e “A capoeira é brasileira: mas, a origem é africana ou indígena?”.

Um tanto assim é a Literatura de Cordel, que tem, como dois pilares, a escrita e a oralidade para ver os fatos como prisma do real e do invencionismo. Nas fantasias das lendas era comum o povo absorver com credibilidade as narrativas dos mais experientes no lidar com a pusilanimidade das pessoas. 

Dessa forma, criavam-se as assombrações, os belos castelos e as mais lindas histórias de amor entre príncipes e princesas. Entretanto, neste caso, o poeta João Figueiredo enveredou-se para o caminho dos questionamentos. Há uma razão fortemente avaliada para a sua determinação em não escrever amenidades, é que agora os tempos são outros e as fantasias não cabem mais na cabeça das pessoas.

Nota-se, entretanto, que a literatura de cordel do poeta João Figueiredo vem assistida da ação didática, sempre na manifestação artística das palavras para a exposição de diferentes elementos da escrita, ou mesmo, da narrativa oral dos fatos. Entendemos que é um dos meios mais populares para se contar “estórias”, com versos rimados que encantam as pessoas que os leem e as que os ouvem.

Talvez o uso das regras e normas prejudicam um pouco a criatividade natural dos acontecimentos, mas por outro lado, os poetas populares estão desonerados de usá-las com exaustão, pois, assim, nada tira o brilho, o encanto e a beleza dos versos em forma de cordel ou da verbalidade regional do sertanejo. Disse, Paul Zumthor, um dos grandes estudiosos da oralidade que “ninguém sonharia em negar a importância do papel que desempenharam na história da humanidade as tradições orais. As civilizações arcaicas e muitas culturas das margens ainda hoje se mantêm, graças a elas”. Além disso, o falar boca a boca é suscetível de modificações com o passar dos tempos. Em consequência disso, no adagiário brasileiro, nós encontramos a seguinte assertiva: “Quem conta um conto aumenta um ponto”, o que não acontece com a escrita. Evidentemente!

Parabéns, João Nunes Figueiredo, o seu livro “A Arte do Cordelismo Para Iniciantes” será de grande valia para professores e alunos.

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