As cidades têm as suas memórias eternizadas no seio da sociedade. Com a nossa Carinhanha não foi nada diferente, pois o historiador Honorato Ribeiro dos Santos, conhecido popularmente pelo nome de Zé de Patrício, vem contando, com sabedoria e conhecimento, as diversas faces da história antiga do município. Carinhanha fica localizada na margem esquerda do rio São Francisco, frente a frente com Malhada. Nota-se que a história política e o desenvolvimento social da cidade sempre estiveram à frente dos municípios baianos. Uma história comovente dos tempos dos coronéis, quando ditava ali o reinado malsinado do ilustre coronel João Correia Duque, homem de sangue nos olhos e a alma envolvida à bulha institucionalizada dos mandachuvas.

Foi assim que o poeta Zé de Patrício se valeu para escrever o cordel “O Barulho de João Duque em Carinhanha”, um folheto literato com a história sucinta das peripécias de um homem amado e odiado ao mesmo tempo. “Há muito tempo atrás/ Em Carinhanha sem lei/ Muitos fatos que nos traz/ Que muita gente morreu/ Desde treze e dezenove/ Brigas e intrigas moveu...”. 

É certo que o coronel João Duque invadiu a cidade de Carinhanha no ano de 1919, com quase uma centena de jagunços. Não obstante o ataque proveniente de Santa Maria da Vitória, mesmo assim João Duque resistiu e continuou a comandar a vida política da cidade. Nesta época, era Carinhanha um reduto de homens maus sob ordens danosas do coronel João Duque.

Em vista disso, o historiador e poeta Honorato se lançou no campo fértil da literatura e produziu vários livretos e livros a respeito de sua querida terra. Entretanto, “O Barulho de João Duque em Carinhanha” – um folheto minúsculo no formato – traz à lume uma versão fidedigna dos acontecimentos daquela época. A propósito, o autor deixou no final do seu trabalho um recado bastante original sobre a sua pequena e valorosa obra: “Leitor amigo eu sou novo/ Porém foi bem pesquisado/ Por velhos que sabem de tudo, O que passou no passado/ A história de Carinhanha/ Agora vai ser registrada...”.

A narrativa de Honorato é fluente, simples e de fácil leitura. Com rimas nos segundos, quartos e sextos versos, que formam cinquenta e cinco estrofes, em sextilhas, a cadência com linguagem original é uma predominante na sua obra. Pode-se dizer que a poesia de Honorato traz uma seleção de fatos históricos com grande capacidade de síntese. Deve o leitor prestar bastante atenção em como a experiência da pesquisa faz com que o autor tenha um completo domínio na descrição da história de sua cidade, aliado a uma visão poética, que lhe é peculiar, trazendo precisão e sutileza aos fatos narrados. Portanto, o livro “O Barulho de João Duque em Carinhanha” é um documentário importante para a história da cidade.

Honorato Ribeiro dos Santos é Filho do saudoso Patrício Pereira dos Santos e de dona Gertrudes Ribeiro dos Santos. Ele nasceu em Carinhanha, Estado da Bahia em 1934, foi funcionário público da Prefeitura Municipal de Carinhanha/BA, exerceu a função de Secretário da Junta Militar do Município e bibliotecário; foi professor de Educação Artística e desenho, no Educandário São José. É compositor, escritor, poeta, violonista e maestro. Já escreveu e publicou vários livros. Compôs o Hino oficial de Carinhanha. Em 1987, tornou-se membro titular da Academia de Letras Municipais do Brasil. Hoje ele faz parte do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros como associado correspondente da cidade de Carinhanha. Parabéns, Honorato, e o meu amplexo!

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